terça-feira, 2 de agosto de 2011

श्राडीआ उनिवेर्सल- -०२.०८.2011

MENSAGEM DO DIA 02.08.2011

ORAÇÃO

Que o teu Amor brilhe para sempre no santuário da minha devoção, e que eu possa despertar o Teu Amor em todos os corações (Yogananda).

SINAIS DE FIGUEIRA

Fixa a mente no Espírito. Sê livre do sentido do ego. Para de esperar recompensas mundanas. Dedica todas as tuas ações a Mim. (Bhagavad Gita).

A VIDA IMPESSOAL

Para que Minha Palavra penetre até a consciência de Tua Alma, tua mente, daqui por diante, deve ser Tua servidora, e Teu intelecto, Teu escravo (Joseph S. Benner).

PRECEITO BUDISTA

Da mesma forma que o armeiro fabrica flechas que sejam retas, o sábio corrige suja mente incerta e instável, difícil de vigiar e dirigir (Dhammapada – Caminho da Lei).

KAMTJI – O PODER DO BEM

Ó corações de bondade, não se lamentem do trabalho de destilar o mal que sufoca o mundo. É com esse labor que o Vaso Sagrado mostrará toda sua radiância (Angélica Moura Ribeiro).

SEMENTES DE AMOR

CERTIFICAR

Ato de certificar; reconhecimento; afirmar a certeza de; atestar; passar a certidão de; convencer da verdade ou da certeza de algo; tornar ciente; afirmar; asseverar; ter a certeza de (Dicionário Aurélio)

Há casos em que uma pessoa amiga, um parente ou mesmo um colega de trabalho necessita de uma declaração ou mesmo de uma palavra ou um certificado de moradia, de bons antecedentes, de bons costumes, etc.

Dar a essa pessoa a certidão que pede é manifestação de boa amizade, é manifestação de amor.

AMOR E LUZ

EDUARDO

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O TIGRE DE BENGALA

Chandu... Chandu... Chandu...
Era grande a gritaria dos espectadores aclamando o feito do grande vencedor de tigres após mais uma das muitas de suas façanhas contra um enorme animal recém apanhado nas florestas do Himalaia.
Chandu um camponês franzino e magricela foi atacado certa vez por um tigre enquanto trabalhava em sua lavoura de trigo. Salvo pelos amigos prometeu a si mesmo tornar-se tão forte que enfrentaria de próprio punho todos os animais daquela espécie que se aproximassem de sua cultura.
Naqueles tempos era comum o surgimento de tigres e outros animais ferozes nas proximidades dos povoados a procura de comida.
O treinamento intensivo a que se submeteu, em poucos anos transformaram-no num tipo extremamente forte, bastante musculoso.
No período de cinco meses conseguiu matar ou amansar três tigres apenas com murros e pontapés violentos. Sua fama espalhou-se rapidamente. Vencido pelo orgulho decidiu ganhar a vida daquela forma.
_ Meu filho, ontem enquanto sentado em meditação fui abordado por um Sadhu. Pediu- me avisá-lo para suspender suas atividades de matanças e domesticação dos tigres. O conselho das selvas determinou aplicar-lhe severo castigo caso não abandone essas atividades.
_ Que é isso, pai, está agora acreditando nas fantasias de algum lunático que se faz passar por sábio?
_ Disse-me ainda o Sadhu que você deveria entrar para um ashram e dedicar-se à busca de sua unidade com o Criador.
_ Muito obrigado pai, mas estou indo muito bem com minhas lutas e esse conselho das selvas que trate de orientar seus membros a não se aproximar do povoado.
_ Filho, não zombe assim das coisas que você teima em não acreditar.
_ Por favo pai, não me obrigue a me afastar de minhas atividades.
_ O pai, saiu em silêncio, lamentando a falta de consciência do filho..
Grande potentado da região conseguiu capturar uma fêmea de tigre de Bengala, enorme, recém parida ferocíssima, ninguém conseguia amansá-la. Alguém lhe lembrou a existência de Chandu, louvando-lhe os feitos extraordinários com mais alguns exageros. Entusiasmado, mandou convidar Chandu para amansar sua tigreza.
O enviado traçou um perfil terrível do animal. Chandu simplesmente balançava positivamente a cabeça, aceitando o desafio para dentro de uma semana. Uma nuvem escura naquele instante toldou-lhe a visão.
O prêmio por sua vitória, em ouro, presentes e rúpias seria elevadíssimo, informou o enviado.
O potentado mandou armar um grande pavilhão e dentro deste um engradado reservado para a luta, dias antes passou a reduzir a alimentação da tigreza. No último dia deixou-a completamente em jejum. Havia bancado um sem numero de apostas, algumas bastante elevadas na vitória de seu animal. Com aquelas providências esperava garantir sua vitória. Ao Chandu fora proibido qualquer contato com o animal antes da luta, temia que ela fosse influenciada de alguma forma pelo lutador.
Chegou o grande dia. O circo estava repleto, todos aguardavam impacientes aquele momento em que homem e fera se enfrentariam.
Abrem o portão da grande jaula, Chandu entra sob a aclamação do povo. Vai à frente e faz mesuras abrindo os braços mostra seu tórax avantajado, mãos e bíceps enorme. A algazarra aumentava a cada mesura.
Aproxima-se a jaula do animal. A tigreza movimenta-se inquieta de uma lado para outro faminta, soltando rugidos terríveis.O povo aplaudia-a entusiasmado. Era um belo animal enorme.. A bocarra mostrava caninos enormes.
A grade da jaula é levantada e ela salta para a arena, corre e salta sobre Chandu que a recebe com formidável soco jogando-a ao chão. O povo grita Chandu... Chandu....
Em novas mesuras o lutador volta-se para agradecer a aclamação. A tigreza recomposta salta-lhe às costas ferrando as enormes garras. O sangue jorra abundante do lutador. Chandu num esforço desesperado joga-se ao chão com o animal, vira-se passa a lhe desferir murros e mais murros, deixando-a finalmente desacordada.
O lutador levanta-se sob o aplauso do povo. Auxiliares entram na arena e prestam algum tipo de socorro ao vencedor, cujas costas continuavam sangrando.
A tigreza ainda desacordada foi fortemente acorrentada, arrastada e jogada na jaula.
Chandu sai aplaudido entusiasticamente, muitas rúpias lhes foram jogadas aos pés, muitos presentes ganhou e a recompensa prometida lhe foi solenemente entregue pelo potentado.
O vencedor, embora financeiramente enriquecido, não saiu ileso do combate, as garras do animal em suas costas causaram danos irreversíveis e ele não pôde mais se dedicar àquelas lutas; o vaticínio do Sadhu se concretizara.






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sábado, 15 de novembro de 2008

ASLAHIR

ASLAHIR-


A ilha Vazia era habitada por um povo pacífico governado por Herculano Topa Tudo, um tipo descomunal com três metros de altura, peitorais salientes, bíceps do tamanho de bolas de futebol., a cabeça pequena desproporcional ao corpo ostentava uma cabeleira desgrenhada, barba e bigodes; olhar terrível.
Os vazianos eram saudáveis, viviam da pesca e da lavoura e até o momento de nossa história não se teve notícias de irregularidades, tinham vida tranqüila: nasciam, cresciam, acasalavam-se e morriam já bastante idosos.
Milhares de milhas adiante um conjunto de três ilhas desabitadas unidas por túneis formados por lava vulcânica.. Eram Areia Verde, Areia Vermelha e Areia Negra dessa o túnel seguia por 21 km até um abismo cuja queda demandava cem anos até Perto do Fim do Mundo.
Entre a ilha Areia Vermelha e a Negra havia um vulcão adormecido povoado por seres anfíbios com cabeças parecidas com antigos escafandros alimentavam-se de qualquer ser vivo que deles se aproximassem, mas podiam viver até 43 anos sem qualquer tipo de alimentação.
43 anos foram passados e estavam todos famintos, por todo esse tempo não lhes apareceu nem um camarãozinho para lhes matar a fome. Saíram do vulcão e passaram a andar e andar pelo túnel a procura de algum alimento e nada; foram 14 ks]m. de caminhada inútil Chegaram a Ilha Vermelha e nada de comida, continuaram a andar pelo túnel e após mais 7 km chegaram á Ilha Vazia, famintos, cansados, quase mortos.
A alegria pelo que viram na lha deu-lhes um novo ânimo e correram a pegar os vazianos e comê-los. A festa durou pouco. Herculano Topa Tudo ao ver seu povo sendo dizimado por aqueles seres passou a enfrenta-los; numa única cacetada matou dez, os outros voltaram correndo para o túnel.
Herculano voltou ao palácio, reuniu-se com seus ministros, decidindo-se por seguirem o rastro daqueles seres hediondos e dar-lhes fim. Não poderiam viver em paz sob a expectativa de novas invasões.
Improvisaram algumas armas e um grupo de 100 vazianos partiu à procura dos atacantes. Andaram, andaram e andaram 7 k m e chegaram à Ilha Areia Verde e nada encontraram. Alguns dos guerreiros vazianos resolveram voltar, outros seguiram em frente decididos a encontra àqueles monstros e liquidá-los. Foram mais 14 km. de caminhada cansativa e inútil até a ilha Areia Vermelha. O vulcão antes adormecido tinha entrado em erupção e dizimado todo aquele povo Cabeça de Escafandro.
Os vazianos resolveram voltar à sua ilha, já não suportavam mais tantas caminhadas inúteis. Voltaram, apenas Herculano Topa Tudo resolveu continuar, agora não mais sedento de vingança, mas curioso com a extensão daquele túnel e assim continuou a caminhada e andou, andou até a ilha Areia Negra, onde chegou cansado e faminto. A ilha como as demais era deserta, mas tinha muita vegetação e árvores frutíferas das quais se serviu abundantemente. Restauradas as forças Herculano verificou que o túnel não terminava ali, continuou então sua caminhada e aí foram mais 21 km. Terminando num abismo do qual não se via o fundo. Herculano à beira do abismo ouviu uma voz dizendo que lá no fundo havia uma civilização extraordinária chamada de Perto do Fim do Mundo, habitada por seres angelicais, imortais, mas para lá chegar gastaria 100 anos e com trechos muito perigosos cheios de montanhas famintas que sugavam quantos se aproximassem de seus picos transformando-o em areias de diversas cores. Herculano Topa Tudo quedou-se pensativo nas palavras da entidade invisível. Hesitava, deveria ir em busca daquela cidade, praticamente um paraíso ou regressar à sua Ilha Vazia?
Resolveu voltar ibuscaria seu povo para juntos buscarem Perto do Fim do Mundo.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Ginete

O GINETE
Fidalgo era um belo puro sangue árabe, negro, alto, um nobre animal que o Capitão Gabriel recebera como presente do pai quando completara dezoito anos e ainda era um jovem estudante na escola militar.
Gabriel, apesar de ter ordenanças preferia ele mesmo lavar, escovar e alimentá-lo. Os dois se entendiam perfeitamente, parecia haver um entendimento telepático entre ambos. Com o tempo esse relacionamento foi se tornando cada vez mais perfeito, e o conjunto cavaleiro/animal tornou­-se quase que um só ser. Era patente em algumas situações o animal se antecipar ao comando das rédeas e agir de acordo com a ordem ainda mal formulada na mente do capitão, deixando-o não raras vezes até espantado. O animal era verdadeiramente um colosso.
Fidalgo era o orgulho do jovem capitão, e ele Fidalgo dava mostras também de se "sentir" orgulhoso do seu cavaleiro.
Nos desfiles, mantinha a cabeça erguida e seus passos eram precisos e elegantes.
Lamentavelmente veio um dia a guerra, cruel e implacável. Um país vizinho, na ânsia de ampliar suas fronteiras invadiu o território do jovem capitão.
Todos são convocados para a defesa da pátria. O capitão embora tivesse na tropa um outro animal, foi obrigado a levar seu valoroso Fidalgo, que de disputa s6 conhecia as raias dos concursos hípicos em que era inconteste campeão. Era um animal nobre, infelizmente tinha também que atender às necessidades de defesa do país, assim, cavalo e cavaleiro foram para os campos de batalha.
A guerra era violenta e cruel, como o são todas. O inimigo mais numeroso e mais bem adestrado
avançava impiedosamente sobre o país. Os invasores das terras de nossos heróis; orgulhosos e violentos, saqueavam tudo; matavam os homens, violentavam as mulheres e se apossavam do que podiam, desrespeitando as normas bélicas internacionais de respeito à dignidade humana.
Numa das batalhas o jovem capitão foi ferido; um oficial de alta patente do exército inimigo reconheceu em Fidalgo um campeão de sua raça e de imediato apossou-se dele. Segurou-o pelas rédeas e tentou inutilmente montá-lo. Por fim chamou dois subordinados e lhes ordenou que segurassem o animal para poder cavalgá-lo; os ordenanças seguraram-no e o oficial montou-o, ordenando em seguida que lhe soltassem as rédeas; o animal tomou-as nos dentes e num desabalado galope saiu pela pradaria afora indiferente aos açoites e esporas do oficial.
A correria durou algum tempo, o oficial gritava, esbravejava, açoitava, e esporeava-o impiedosamente; tentava frear aquele galope desembestado.
O animal espumava pela boca e o sangue lhe escorria dos cortes causados pelas esporas.
Por fim o animal jogou-se de um desfiladeiro no fim da pradaria, carregando consigo, para a morte, o oficial inimigo.

FIM

sábado, 18 de outubro de 2008

FITA VERDE NO CABELO

INSPIRADO NO TEXTO FITA VERDE NO CABELO DE GUIMARÃES ROSA


_ Sua bênção, manhê?
_Deus te abençoe filhinha, durma bem, sonhe com os anjinhos do céu.
Nininha caiu num sono profundo e...

Vou passear na floresta
Enquanto seu lobo não vem.
No braço um cesto e um pote
Pra vovó que me quer bem

No pote um docinho gostoso
O cesto vazio está
Vai voltar com fambroesas
Se no caminho encontrar

Esse caminho longo e louco
Que resolvi caminhar
Melhor que o curtoso
Tem coisas pra´dmirar

Avelãs pelo chão espalhadas
Borboletas azuis a voejar
Anões e fadinhas trabalhando
E lenhadores a lenhar


Do lobo mau nem sinal
Moinho de vento a rodar
Minha fita verde no cabelo
Começa a se desmanchar

Sobejamente as flores
No caminho a perfumar
Abelhas e borboletas
Vêm nelas pousar

Toque, toque, toque
Vovó posso entrar?
Entre netinha linda
Estava a te esperar

Vozinha que braços magros
Já não posso te abraçar
Vozinha que lábios roxos
Já não te posso beijar

Vozinha que olhos fundos
Já não te posso olhar
Vozinha fale comigo
A vozinha morta está.

_Manhê, manhê, acorda Nininha assustada.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

CHAPEUZINHO DE PALHA

CHAPÉUZINHO DE PALHA


_ Filhinho, o pacote que está em cima da mesa é dos remédios de seu avô, não esqueça de levá-lo, mas não demore muito,
_Está bem, manhê, eu vou correndo.
Chapeuzinho de Palha era um garoto muito esperto e corajoso para seus onze anos: robusto, cabelos castanhos, os olhinhos vivos., o xodó de seus pais.
Distraído jogando bola com os amiguinhos, quando se lembrou dos remédios do avô à tarde já ia avançada.
Patacoá era um vilarejo no interior de uma grande capital; seus habitantes eram pessoas simples, pacíficas, religiosas, mas sofriam de um grande desgosto; é que por aquele tempo um lobisomem, todo o período da Lua Nova, espalhava o terror pela região. Homens, mulheres, jovens quem quer que se aventurasse a atravessar a floresta após o cair da tarde estava sujeito a cair nas garras do feroz personagem..
Chapeuzinho de Palha, sem tomar conhecimento do perigo, pegou o pacote de remédios e saiu correndo para cumprir sua tarefa, tomando o atalho que o levaria a casa do avô.
_ Chapeuzinho de Palha, Chapéuzinhjo de Palha, aonde vai com tanta pressa? Perguntou Militão, um velho conhecido do povoado; era pessoa de bem.
_ Vou levar os remédios do vô.
_ Porque vai por esse atalho tão perigoso, não sabe que hoje é dia do lobisomem? Vá pelo caminho normal que é mais seguro, embora um pouco mais longo. Vai encontrar muitas coisas bonitas: aves, coelhinhos, sagüis; é bem melhor..
Chapeuzinho desviou-se e passou a seguir pelo caminho indicado. Andou, andou, apressadamente, e ao meio do caminho a figura horrenda do lobisomem saltou à sua frente; assustado deu um pulo para traz, tirou do pescoço a cruz de prata que trazia pendurada e apontou-a para o bicho. Com um urro terrível o animal sumiu no meio do mato.
O coração ainda aos pulos Chapeuzinho continuou, quase a correr, seu caminho, ainda segurando a cruz na mão.
Chega por fim cansado, ofegante à casa do avô.
_ Vovô, vovô, o senhor está aí? Pergunta o garoto batendo na porta.
_ Entre Chapeuzinho, entre.
O garoto entra e se depara com uma cena horripilante: o lobisomem caído ao chão, todo ensangüentado, morto e o velho avô com um facão enorme na mão.
_ Ó vovô que aconteceu?
_ Aconteceu Chapeuzinho que esse lobisomem nunca mais vai assustar nosso povoado.
_ Vovô esse não é o Militão?
_ Era, Chapeuzinho, era, esse cidadão de aparência tão bondosa na realidade era o bicho que aterrorizava todo o povoado.
_ Puxa vida!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O FILHO ESPREZADO

ABEL – O FILHO DESPREZADO
EDUARDO P. F. NETTO

Braz, estou grávida.
O que é isso mulher, você não para de ter filhos? Até parece “devota de São Bento, é um filho fora e outro dentro”.
Você também não me deixa dormir em paz. Vira pra lá,vira pra cá e vapt-vupt.
Porquê não toma pílulas para evitar?
Remédio custa dinheiro e você nunca me dá algum. Sempre que peço você reclama.
Han, han, você gosta mesmo é de engravidar, isso é que è; gosta mesmo é de se ver como tivesse com uma melancia na barriga.
É, mais dessa vez eu não queria mesmo.
Procure aquela D. Severina Parteira peça para ela um remédio para abortar.
Isso é pecado Braz.
Então deixa vir, será mais um par de braços forte para a lavoura.
Vou pensar.
Tá bem.
Elsa era uma cabocla forte, bonita, os cabelos e olhos negros, uma boca bem alinhada, cintura acentuada, mulher para homem nenhum botar defeito. O marido era também um caboclo forte, os cabelos crespos, a testa alta, os olhos castanhos, a pela morena curtida pelo sol do nordeste; mesmo antes de casar sentia uma forte atração por Elsa, com o casamento deu-se a explosão de seus desejos e já com mais de vinte anos de casados esse desejo não arrefecera.
Vinha entrando de porta a dentro à casa do Braz, quando ouvi o casal conversando. Parei e fiquei a escutar para não interrompê-los. Por fim ao entrar à sala:
Jurandir, meu amigo, preciso de seus conselhos.
O que houve desta vez, Elsa?
Engravidei mais uma vez e não quero esse filho. Já tomei vários remédios que a parteira fez para abortá-lo, mas agora não fez efeito.
Porquê você me pede conselhos se não vai segui-lo? Você sabe que sou contrário a esse tipo de coisa. Filho é dádiva de Deus, se você renega essa dádiva o que pode esperar dessa vida?
Elsa, emburrada tratou de mudar o rumo da conversa.
Três meses após essa conversa nasceu Abel com a cabeça e as pernas atrofiadas, o casal veio me procurar. com o bebê nos braços. Era uma figura muita feia. Fiquei penalizado.
Que é que faço com isso, você diz que filho é dádiva de Deus isso lá é dádiva de Deus?
Minha amiga, não esqueça que você fez o que pôde para abortá-lo, os remédios que tomou com certeza provocaram o que você chama de isso. Agora é tratar de carregar essa cruz e cuidar muito bem dela.
Você tá doido Jura, você acha mesmo que vou carregar esse fardo?
E o que você vai fazer?
Se não conseguir quem fique com ele, vou colocá-lo numa caixa e jogá-lo no rio; quem sabe alguém poderá encontrá-lo?
Minha amiga, isso é terrível. Você vai se enterrando cada vez mais na iniqüidade, não faça uma coisa dessa. Você plantou uma má semente, terá que colher seus frutos, é a lei de Deus.
Lei de Deus ou não preciso me desfazer deste fruto..
Não faça nada por enquanto, vou ver se consigo alguma alma caridosa que possa ficar com ele..
Meus amigos saíram um tanto decepcionados com o que lhes falei.
Lembrei-me que Elsa tinha uma irmã rica e solteira em São Paulo,
Amália, a irmã, trabalha ou trabalhava como voluntária em algumas entidades filantrópicas. Liguei para ela, ficou de vir até nós para conhecer o Abel.
Uma semana após ela surgiu de surpresa em minha casa.
Então Jura vamos lá ver nosso bebê?
Fomos à casa de nossos amigos, não os encontramos, àquela hora estavam
todos na lavoura. Entramos, jogado num canto, peladinho, coberto apenas um com trapo velho lá estava. Abel, magrinho, a cabeça descomunal, agitou os bracinhos e a cabeça ao nos ver. Amália, lágrimas a lhe escorrer pela face, apanhou-o compadecida, enrolou-o numa toalha, colocou-o num sofá e foi preparar um banho. Estava todo sujo de cocô. Deu-lhe o banho, procurou sem sucesso alguma roupa. Tirou dinheiro da bolsa e pediu-me para ir comprar fraldas, roupas, artigos de higiene e um carrinho de bebê.Ao voltar encontrei-a numa cadeira de balanço cantando uma cantiga de ninar com Abel no colo.
Dezoito horas, o sol cansado de sua milenar trajetória diária deitava-se além do horizonte. Espalhava sua cabeleira pintando com suas cores as nuvens passageiras. Pasmado, da varanda da casa olhava aquele espetáculo de rara beleza.
Meus amigos voltavam da lavoura, ao me verem apressaram os passos. Os filhos se espalharam pelos fundos da casa.
Ó, até que enfim você apareceu reclamou Elsa.
O que te traz aqui, Jura? Perguntou Braz.
Tenho uma surpresa para vocês, vamos entrar,
Na sala Amália ninava o bebê todo vestidinho e perfumado;num lado numa pequena mesa a mamadeira vazia no outro um carrinho de bebê com alguns bibelôs..
Surpreso o casal cumprimentou alegremente a visitante. Evitaram falar sobre o bebê.
Três dias após com os documentos legais de adoção Amália voltou com ele para São Paulo
Quinze anos se passaram. Abel, graças ao empenho e amor da tia superara um tanto suas deficiência, era um excelente aluno e exímio violinista. Cnco anos de prática com o instrumento sob a direção de famoso professor tornou-se um violinista de renome. Viajava constantemente dando consertos por todo o mundo. Estava rico. A mãe adotiva o acompanhava.
Dez anos se passaram, um dia Amália recebe uma carta desesperada.
Amália, estamos arruinados e doentes, os filhos todos não suportando as privações debandaram. Nem sei por onde andam. Por favor, nos ajude.
Filho leia esta carta.
Abel lê a carta.
De quem é?
Amália passa a lhe contar quem é Braz, o signatário da carta.
Ó mãe porquê não me contou isso antes?
Tive medo de suas reações, afinal eles lhe desprezaram impiedosamente; mas numa tal situação acho que devemos perdoa-los.
Vamos lá mãe, quero conhecer a abraçar minha verdadeira mãe e meu pai, mas não precisa ter qualquer tipo de receio a senhora será a mãe a quem sempre amarei.
No dia seguinte à chegada dos dois fomos à fazenda dos amigos. Era uma desolação. A casa antes tão bonita parecia abandonada. A lavoura e o rio secos. Uma desolação total. O encontro de Abel com seus pais foi comovente. Elsa abraçada com ele chorava e pedia perdão pelo desprezo que lhe votara. O pai também chorava arrependido.
Eu e Amália ao lado observávamos comovidos essa cena de arrependimento dos pais e de perdão do filho.
Trinta dias durou a permanência de Abel e sua mãe adotiva na cidade. A casa dos pais foi restaurada, um poço artesiano foi aberto e a água voltou a molhar aquela terra.
Impossibilitado para o trabalho pesado Braz agora apenas supervisionava os trabalhadores e Elsa limitava-se aos afazeres domésticos.
Abel enviava mensalmente uma pensão aos pais.
Naquele tempo eu era pregador e orientador de certa entidade religiosa, mas com a idade minhas atividades foram se tornando cada vez mais escassas até que por fim fui aposentado com uma remuneração insuficiente.
Numa das visitas que Abel, como de costume, fazia a seus pais visitou-me também e apercebeu-se que eu estava envelhecido, alquebrado e sem condições de trabalhar; mandou construir uma casa ao lado da casa da fazenda de seus pais e me instalou nela, onde também passei a fazer refeições.
Sempre nos reuníamos para jogar dominó, mas lá numa noite de lua cheia em que o casal estava desejando fazer outro tipo de jogo, sem algo para fazer sentei-me a escrever essas lembranças.