LONGEVIDADE INTOLERÁVEL
Dona Virgulina era uma senhora bastante idosa, riquíssima, mas totalmente intolerável, verdadeira megera.
O filho mais velho, desempregado, casado e com dois filhos vivia praticamente de favor em sua casa, aturando diariamente as impertinências da velha .Era ele, em realidade uma exceção na família. Tipo bom e trabalhador, estava azarado, por mais que procurasse não encontrava emprego e assim vivia suportando calado a humilhação a que a mãe submetia sua família.
_Você é um imprestável, não se mexe para nada, sua mulher é uma toupeira, porque não vão embora de uma vez desta casa? Ainda por cima esses meninos desobedientes e barulhentos. Me deixem em paz de uma vez! Era a cantilena diária da velha..
Os demais parentes, filhos, netos, sobrinhos etc. só a visitavam uma vez por ano em seu aniversário, mas era sempre a mesma cantilena:
_ Que é que vocês vieram fazer aqui? Reclamava a velhota.
_Vocês não gostam de mim, só querem mesmo me ver morta para passar a mão no meu dinheiro. São um bando de urubus agourentos. Vão embora!
A velhota tinha razão. Seus parentes eram um bando de vadios que estavam apenas aguardando a hora da “liberdade”, o que se daria, pensavam eles, com a morte da velha. que era entretanto muito forte e tinha uma saúde de ferro. Já com noventa anos não parava. Era da cozinha para a sala; da sala para o quintal; subia e descia escadas como qualquer moleque, para profundo desgosto dos parentes..
Lá um dia, um dos parentes que dia a dia mais de endividava, contando com a morte da velha de uma hora para outra, incomodado com sua longevidade reuniu os demais e combinaram antecipar a passagem da velhota desta, para a melhor.
Como estava próximo a seu nonagésimo sexto aniversário planejaram comemorá-lo adequadamente.
Um enorme bolo de aniversário com duas velas indicando a idade da aniversariante jazia majestosamente à mesa devidamente decorada para a ocasião.
_ Vocês são uns perdulários, para que essa ostentação se não gostam de mim?
_Não, não é verdade, todos lhe amamos, falou um dos parentes.
_ É verdade, é verdade, todos lhe amamos, afirmaram os demais em coro.
Lá para às tantas alguém lembrou que era hora de partir o bolo.
Reuniram-se em torno da mesa. A velha próxima ao bolo e os demais mais ou menos afastados. Foram acesas as velinhas.
_Parabéns pra você, nessa data querida....
Uma terrível explosão abalou todo o prédio.
Os bombeiros foram chamados; apagadas as chamas iniciou-se a procura de sobreviventes.
_ Ai, ai, vocês são uns miseráveis, vocês não gostam de mim, só querem é meu dinheiro, urubus agourentos .... ouvia-se por baixo dos escombros.
Só a Virgulina escapou da explosão..
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
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