A VIDENTE
TERCEIRO CAPÍTULO
_ E aí.meu bem, já conversou com seu marido?
_ Ainda não.
_ O que está esperando?
_ São as crianças, Raul.
_ O que têm as crianças?
_ Não posso deixá-las nas mãos do José.
_ Bem, você é quem sabe; são elas ou eu.
_ Não posso perder seu amor Raul.
Cansada e roída pelos ciúmes Guiomar procura nos
braços de outro o amor que não encontrou no marido.
_ José, não dá mais, vou pedir o divórcio de você.
_ Você está doida Guiomar?
_ Sim, doida de paixão por outro homem que me dá o amor que você me nega, entregando-se aos braços de outras mulheres. Já não agüento mais essa situação. _ E as crianças?
_ Pode ficar com elas.
_ Como é que eu vou ficar com as crianças, Gui?
_ E problema seu, quem sabe, uma de suas vagabundas não fica com elas?
_ Você enlouqueceu de vez.
_ Louca ou não. Hoje mesmo vou deixar essa casa para não mais voltar.
Guiomar, sob as vistas indignadas do marido arrumou suas coisas, pôs todo dentro do carro e sumiu. Os filhos nada viram, estavam na escola. Dirigiu-se à casa do amante que a esperava impaciente.
José, desesperado, sem saber o que dizer aos filhos e como irá criá-los sozinho andava impaciente de um lado para outro.
_ Alô, Margarida?
_Sim
_ Meu amor, estou precisando urgentemente de você.
José conta sua história para uma das mulheres com quem saía vez por outra.
_ Você está maluco? respondeu Margarida você acha mesmo que eu vou cuidar de filhos de outra. Não vou mesmo procure outra!
José liga inutilmente para outra de suas aventuras.
Lembrou-se então de sua mãe, senhora já idosa, como último recurso.
_ Mãe?
_ Sim filho, o que queres, o que aprontaste desta vez?
_ A Guiomar me deixou, inclusive com as três crianças.
_ Também, o que você queria, isso iria acontece mais cedo ou mais tarde. Até que durou muito!
_ Preciso que fique com as crianças até conseguir uma solução melhor para elas.
_ Está bem, está bem, pode trazê-las. Elas já sabem disso?
_ Ainda não.
As crianças voltam da escola e estranham a presença do pai àquela hora.
_ A mamãe precisou viajar com urgência; deixou um beijão para cada um.Vocês vão passar uns dias na casa da vovó, até a mamãe voltar.
As crianças ficam contentes. Amam a avó que conta muitas histórias bonitas e lhes dá muitos doces e brinquedos.
José não se conforma com o abandono. Já há um mês ela lhe deixou, o processo do divórcio marchava a passos lentos no tribunal. Apesar de tudo ele, a seu modo, ama a esposa e não está aceitando a separação. Nesse tempo ouviu falar numa tal de Mme. Rosa, uma esotérica muito hábil em trabalhos de magia. Vai procurá-la.
_ Mme. Rosa, minha mulher me abandonou com três filhos pequenos para se juntar com outro, preciso que ela volte para mim. Não só por mim, mas acima de tudo pelas crianças.
Essa história do José não estava bem contada. À medida em que o consulente preenchia a ficha de atendimento ela estava vendo em seu astral sua vida pregressa . Não era nada boa.
Era certo que amava a mulher a seu modo e aos filhos, mas era mulherengo, libertino, dava em cima de tudo quanto era mulher.
_ Mme. me ajude, eu não posso ficar sem ela.
_ Muito bem, vou ver o que posso fazer, mas você precisa fazer sua parte. Deixar de lado seu gosto por tudo que é mulher e tratar de manifestar melhor esse seu amor que diz ter por ela e seus filhos
_ Eu prometo Mme que se ela voltar eu vou deixar as outras de lado e viver só para ela e as crianças.
A vidente não acredita muito em sua promessa, mas vai atuar em benefício das crianças.
_ Muito bem, volte dentro de uma semana para conversarmos melhor, enquanto isso, trate de se conter.
A vidente a noite volta ao seu altar, procede ao ritual de praxe e fixa seu olhar na bola de cristal que substituiu o pentagrama entre os demais objetos da mesa.
Um turbilhão de nuvens negras se forma dentro do cristal, mas aos poucos vai se esvaindo para mostrar uma cena terrível.
Um mago negro está diante de seu altar goético, invocando suas entidades infernais. Tem às mãos uma vela azul e outra rosa representando respectivamente Raul e Guiomar. A cerimônia é de amarração. Foi encomendada pelo amante interessado na possível fortuna dela.
Em meio a imprecações e oferecimento de bebida, fumo e sangue animal ele amarra as duas velas com fitas da mesma cor e após seu ritual vai enterrá-las numa encruzilhada deserta.
Mme. Rosa está indignada. A falsidade do amor do Raul é evidente.
A cena no interior do cristal se desvanece. Encerra sua sessão com preces ao Supremo Criador no sentido levar Amor e Luz a toda as criaturas. Seu trabalho, entretanto ainda não terminou. Desdobra seu corpo astral e vai visitar Raul. Encontra-o dormindo ao lado da insone Guiomar que pensa nos filhos.
Puxa o astral da mulher e leva-o até a casa da sogra onde estão vivendo os filhos. Estão dormindo, a saudade aumenta e com ela o remorso. A vidente promove um encontro no mundo astral da alma dela com as dos filhos. A encontro é comovente.
Ainda desdobrada induz Raul a sonhar com outra mulher mais bonita e mais rica que Guiomar. Ele se remexe inquieto. O sonho continua, nele vê que Guiomar não é tão rica quanto pensava .
Uma semana se passa e ele chega a conclusão que sua amante realmente não é rica, o dinheiro é do marido; e já um tanto enjoado com o sexo que faz com ela resolve despachá-la, pois já está de olho numa mulher mais bonita, solteira e realmente endinheirada.
_ Sabe Guiomar, você não é mulher para mim!
_ Como assim Raul?
_ É isso mesmo. É melhor voltar para seu marido e seus filhos, já estou enjoado de você.
_ Mas Raul, como é que posso voltar para o José?
_ Para o José ou para outro imbecil qualquer, para mim tanto faz.
Guiomar não está acreditando no que ouve, baixa a cabeça e vai para o quarto chorando.
Passou-se uma semana. ainda está na casa do amante. O relacionamento entre eles é terrível, Ela dorme num sofá da sala.
D. Rosa mais uma vez em seu corpo astral desdobrado faz-lhe um visita e lhe
induz um sonho no qual ela se vê em diversas situações negando a satisfação sexual ao marido, o que o faz procurar essa satisfação com outras mulheres.
Raul lembrou-se da amarração que mandou fazer e conscientizou-se de que precisava desfazê-la, caso contrário Guiomar não sairia de sua vida. Procurou o bruxo a quem havia encomendado o serviço e pagou para desfaze-lo o dobro do que pagou pela amarração.
À noite daquele mesmo dia Guiomar voltou a sonhar com os filhinhos e com o esposo, “viu-o” ajoelhado, chorando diante da Virgem no altar da sogra. Comoveu-se e acordou chorando. Como fora boba em acreditar nas promessas de amor de Raul.
O que deveria fazer? Humilhar-se e pedir perdão ao José estava fora de cogitações.
_ Você ainda está aqui? Perguntou Raul rispidamente, ao voltar para casa no fim do dia.
Sem nada dizer, vai para o quarto chorosa e humilhada. Cai de joelhos e pela primeira vez lembra de Deus, mas não sabe orar. Assim mesmo põe as mãos em posição de prece, abre seu coração e diz:: Ó Deus, não dá mais; sei que não mereço Tua atenção, Mas perdoa-me. Nesse instante um sentimento de paz invadiu sua mente e ela “sentiu” o que deveria fazer. Levantou-se, arrumou a mala e saiu sem dar atenção a Raul. Pegou seu carro e rumou para a casa da sogra; estacionou-o e dirigiu-se pensativa e preocupada com o que dizer à sogra e aos filhos. Tocou campanhia. A porta abriu e seu filho mais velho atirou-se em seus braços gritando: Ritinha, Paulinho, mamãe voltou mamãe voltou .As crianças correm para a porta e também se atiram a seus braços.
D. Albertina, a sogra, também veio, mas sem tanta euforia.
_ Afinal, cansou da aventura?
_ Perdoe-me D. Albertina, perdôe-me, pediu Guiomar ajoelhando-se a seus pés.
D. Albertina tomada de surpresa diante daquela manifestação da nora a fez levantar-se e abraçadas choraram.
Os filhos atônitos nada entenderam
Por volta das vinte horas José vem à casa da mãe para ver os filhos.
_ Papai, papai, mamãe voltou gritaram os filhos correm para ele abraçando-o
_Mamãe voltou, mamãe voltou, onde ela está, onde ela está? Pergunta o pai, o coração aos pulos
José corre sem esperar resposta; na sala só encontra sua mãe que lhe aponta o quarto. Corre para lá e depara-se com a esposa ajoelhada diante de um altar.
_ Guiomar, Guiomar, meu bem, meu bem!
Ela levanta-se e joga-se em seus braços.
_ Perdoa-me José, perdoa-me- fui uma louca!
_ Não diga nada Gui, não diga nada, fui eu o maior culpado és tu deves me
perdoar
Após essa efusão de sentimentos em que ambos reconhecem suas
mútuas culpas voltam para casa.
José já não chegava tarde da noite em casa e Guiomar não mais recusava por
qualquer razão os desejos sexuais do marido.
Por volta da meia noite Mme.Rosa vai “ver” como estão seus dois pacientes.
Encontra-os abraçados na cama num beijo profundo e apaixonado. Volta então ao seu corpo físico e mais um vez ajoelhada diante do altar agradece ao Criador aquela oportunidade de servir.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
SEVERINO
SEVERINO
Eduardo Paes Ferreira Neto
O camburão da policia militar chegou à Praça do Comercio em Garanhuns.
A população ficou em polvorosa, o que viria fazer ali uma viatura destinada a presidiários? A curiosidade era geral. Os mais afoitos se aproximaram do veículo e inquiriram o motorista sobre sua finalidade.
Viemos buscar dois pacientes para o hospício em Recife. Por favor, onde mora o Sr. Severino da Silva?
_ Eu lhes levo lá, ofereceu-se um dos curiosos.
_ Tudo bem, suba aí.
_ Chegue-se um pouco para cá para o rapaz entrar, Antônio, pediu o
Cabo Manoel, o motorista.
O veículo sob a orientação de um dos curiosos tomou a direção da
casa de Severino.
A notícia espalhou-se e em minutos a rua estava cheia de pessoas de todas idades e condições sociais!.
O veículo chegou à casa do caboclo. A noticia chegara antes e ele já estava à porta esperando.
_ Senhor Severino da Silva? Perguntou o soldado.
_ Sim senhor, sim senhor!
O cabo tirou um papel da pasta e entregou-o a Severino, era a ordem para levar os pacientes para o Hospital da Tamarineira em Recife.
Severino pegou o papel, olhou, olhou e pediu para outra pessoa ler.
O número de pessoas aumentou à frente a casa. Conversavam
respeitosamente em voz baixa.
O dono da casa, afastando-se da porta pediu aos policiais para entrarem e descansar um pouco, enquanto ele iria preparar os pacientes para a viagem.
O tempo ia passando, ia passando e os curiosos não se afastavam.
Severino era um trabalhador rural, viúvo há já cinco anos, novo ainda, forte, musculoso, um tipo respeitado por todos os conhecidos que eram muitos. A finada esposa lhe deixara dois filhos que nasceram com deficiência mental e assim cresceram, estavam agora um com quatorze e outro com dezesseis anos. Enquanto Zefinha, a finada estava viva cuidava das crianças da melhor maneira possível, mas Severino sozinho, precisando cuidar da lavoura do patrão não podia lhes dar muita atenção e assim o tempo foi passando e a demência dos rapazes piorando. Chegou a um ponto que não dava mais para tê-los em casa. Os dois viviam brigando.
O posto de saúde da cidade cuidou das providências para a internação.
Três horas da tarde, o soldado Antônio sai da casa e vai abrir a porta do camburão. Severino e o cabo trazem s dois rapazes. Eles estão inquietos, nervosos, relutando a saírem, mas a um olhar mais severo dos adultos se deixam levar e entram na viatura. O soldado vai com eles para evitar problemas. O cabo tranca a porta do veículo e despede-se de Severino,
O camburão dá partida, Severino passa um pedaço de pano nos olhos para enxugar as lágrimas que não paravam de cair, consciente de que dificilmente voltaria a ver aqueles filhos que tanto amava. Ainda não havia cura para aquele tipo de demência.
Os vizinhos aproximavam-se e se solidarizavam com sua dor.
Passado algum tempo, cansado da solidão, logo se engraçou de Jacinta uma cabocla morena, bonita, cabelos lhe chegando à cintura, olhos também negros vivazes; mulher forte, trabalhadeira, com certeza boa parideira logo lhe daria uma ruma de filhos para ajudar na lavoura de subsistência da casa.
Com o ânimo um tanto quebrantado após a morte da Zefinha e o cuidado com os filhos agora era outro homem, estava mais disposto, revivera. Jacinta cuidava bem daquele homem e ele retribuía fartamente seus cuidados.
O casal era terrivelmente fértil, cinco anos após se juntarem já tinham seis filhos; em duas barrigadas nasceram gêmeos. E a vida seguia em frente indiferente a incapacidade financeira de Severino.
Uma família típica do sertão pernambucano.
FIM
Eduardo Paes Ferreira Neto
O camburão da policia militar chegou à Praça do Comercio em Garanhuns.
A população ficou em polvorosa, o que viria fazer ali uma viatura destinada a presidiários? A curiosidade era geral. Os mais afoitos se aproximaram do veículo e inquiriram o motorista sobre sua finalidade.
Viemos buscar dois pacientes para o hospício em Recife. Por favor, onde mora o Sr. Severino da Silva?
_ Eu lhes levo lá, ofereceu-se um dos curiosos.
_ Tudo bem, suba aí.
_ Chegue-se um pouco para cá para o rapaz entrar, Antônio, pediu o
Cabo Manoel, o motorista.
O veículo sob a orientação de um dos curiosos tomou a direção da
casa de Severino.
A notícia espalhou-se e em minutos a rua estava cheia de pessoas de todas idades e condições sociais!.
O veículo chegou à casa do caboclo. A noticia chegara antes e ele já estava à porta esperando.
_ Senhor Severino da Silva? Perguntou o soldado.
_ Sim senhor, sim senhor!
O cabo tirou um papel da pasta e entregou-o a Severino, era a ordem para levar os pacientes para o Hospital da Tamarineira em Recife.
Severino pegou o papel, olhou, olhou e pediu para outra pessoa ler.
O número de pessoas aumentou à frente a casa. Conversavam
respeitosamente em voz baixa.
O dono da casa, afastando-se da porta pediu aos policiais para entrarem e descansar um pouco, enquanto ele iria preparar os pacientes para a viagem.
O tempo ia passando, ia passando e os curiosos não se afastavam.
Severino era um trabalhador rural, viúvo há já cinco anos, novo ainda, forte, musculoso, um tipo respeitado por todos os conhecidos que eram muitos. A finada esposa lhe deixara dois filhos que nasceram com deficiência mental e assim cresceram, estavam agora um com quatorze e outro com dezesseis anos. Enquanto Zefinha, a finada estava viva cuidava das crianças da melhor maneira possível, mas Severino sozinho, precisando cuidar da lavoura do patrão não podia lhes dar muita atenção e assim o tempo foi passando e a demência dos rapazes piorando. Chegou a um ponto que não dava mais para tê-los em casa. Os dois viviam brigando.
O posto de saúde da cidade cuidou das providências para a internação.
Três horas da tarde, o soldado Antônio sai da casa e vai abrir a porta do camburão. Severino e o cabo trazem s dois rapazes. Eles estão inquietos, nervosos, relutando a saírem, mas a um olhar mais severo dos adultos se deixam levar e entram na viatura. O soldado vai com eles para evitar problemas. O cabo tranca a porta do veículo e despede-se de Severino,
O camburão dá partida, Severino passa um pedaço de pano nos olhos para enxugar as lágrimas que não paravam de cair, consciente de que dificilmente voltaria a ver aqueles filhos que tanto amava. Ainda não havia cura para aquele tipo de demência.
Os vizinhos aproximavam-se e se solidarizavam com sua dor.
Passado algum tempo, cansado da solidão, logo se engraçou de Jacinta uma cabocla morena, bonita, cabelos lhe chegando à cintura, olhos também negros vivazes; mulher forte, trabalhadeira, com certeza boa parideira logo lhe daria uma ruma de filhos para ajudar na lavoura de subsistência da casa.
Com o ânimo um tanto quebrantado após a morte da Zefinha e o cuidado com os filhos agora era outro homem, estava mais disposto, revivera. Jacinta cuidava bem daquele homem e ele retribuía fartamente seus cuidados.
O casal era terrivelmente fértil, cinco anos após se juntarem já tinham seis filhos; em duas barrigadas nasceram gêmeos. E a vida seguia em frente indiferente a incapacidade financeira de Severino.
Uma família típica do sertão pernambucano.
FIM
FAMÍLIA DE SEU JOAQUIM
A FAMILIA DO SEU JOAQUIM
EDUARDO PAE FERREIRA NETTO
O expresso Recife-Maceió parou na estação Rio Largo; na rabeira dessa composição estava um vagão diferente com grades de ferro nas janelas, era dedicado à pessoas especiais ou condenados.
O guarda-freios aproximou-se e desatrelou-o. Uma locomotiva aproximou-se, engatou-o e o levou para o pátio de manobras, ficaria ali aguardando uma outra composição que viria logo mais e o levaria para longe.
Grande quantidade de homens, mulheres e crianças aproximou-se daquele estranho vagão. Aguardavam a chegada das pessoas que deveriam nele embarcar. Conversavam sobre a situação daquelas moradoras que o destino marcou com impiedoso desequilíbrio mental.
Eram pessoas queridas e respeitadas na região e aquela situação surgida ao longo de vários anos causava tristeza a quantos as conheciam
O Sr. Joaquim, chefe daquela família era um homem, robusto, sessentão de longa cabeleira e bastos bigode e barba. De bonachão que era, após vários anos de cuidados e sofrimentos com as duas mulheres, mãe e filha, tornou-se taciturno, pouco se lhe viam na praça do coreto onde antes de sua viuvez vinha com as três: esposa, mãe e filha ouvir as valsas e dobrados tocados pela “furiosa” do município.
Ao fim da tarde , Seu Joaquim de mãos dadas com as duas mulheres surgiu na esquina da rua em que moravam. A jovem gesticulava e em voz alta numa voz descontrolada falava algo indefinível. A velha com o olhar perdido no horizonte mexia a cabeça de um lado para um lado. Aproximavam-se da gare.
O trem do alto sertão parou na estação.
O maquinista da locomotiva a que estava engatado o vagão especial movimentou-se e foi atrelá-lo à composição recém-chegada..
A multidão locomoveu-se para a gare da estação, queria ver de perto o embarque das duas mulheres a guisa de despedida. Conversavam baixinho entre si, lamentando a situação daquela família, antes tão alegre e feliz.
O trio chegou à gare, um funcionário encaminhou-os ao vagão especial, já atrelado à composição.
Aquele homem robusto, taciturno, com lágrimas nos olhos entregou as mulheres ao funcionário. Sem qualquer reação elas o acompanharam. Sr.Mário, o funcionário após acomodá-las trancou a porta do vagão, deu um apito e o trem seguiu seu destino levando aquelas duas criaturas para o hospício estadual, de onde provavelmente nunca sairiam com vida.
Seu Joaquim permaneceu em pé na gare, os olhos cheios de lagrimas até o trem sumir na curva da estrada de ferro.
Os vizinhos se chegaram para consolá-lo com as expressões usuais.
Alguns meses após encontramos Seu Joaquim na praça do coreto de braços com uma mulher mais nova escutando o dobrado Saudades da Minah Terra.
EDUARDO PAE FERREIRA NETTO
O expresso Recife-Maceió parou na estação Rio Largo; na rabeira dessa composição estava um vagão diferente com grades de ferro nas janelas, era dedicado à pessoas especiais ou condenados.
O guarda-freios aproximou-se e desatrelou-o. Uma locomotiva aproximou-se, engatou-o e o levou para o pátio de manobras, ficaria ali aguardando uma outra composição que viria logo mais e o levaria para longe.
Grande quantidade de homens, mulheres e crianças aproximou-se daquele estranho vagão. Aguardavam a chegada das pessoas que deveriam nele embarcar. Conversavam sobre a situação daquelas moradoras que o destino marcou com impiedoso desequilíbrio mental.
Eram pessoas queridas e respeitadas na região e aquela situação surgida ao longo de vários anos causava tristeza a quantos as conheciam
O Sr. Joaquim, chefe daquela família era um homem, robusto, sessentão de longa cabeleira e bastos bigode e barba. De bonachão que era, após vários anos de cuidados e sofrimentos com as duas mulheres, mãe e filha, tornou-se taciturno, pouco se lhe viam na praça do coreto onde antes de sua viuvez vinha com as três: esposa, mãe e filha ouvir as valsas e dobrados tocados pela “furiosa” do município.
Ao fim da tarde , Seu Joaquim de mãos dadas com as duas mulheres surgiu na esquina da rua em que moravam. A jovem gesticulava e em voz alta numa voz descontrolada falava algo indefinível. A velha com o olhar perdido no horizonte mexia a cabeça de um lado para um lado. Aproximavam-se da gare.
O trem do alto sertão parou na estação.
O maquinista da locomotiva a que estava engatado o vagão especial movimentou-se e foi atrelá-lo à composição recém-chegada..
A multidão locomoveu-se para a gare da estação, queria ver de perto o embarque das duas mulheres a guisa de despedida. Conversavam baixinho entre si, lamentando a situação daquela família, antes tão alegre e feliz.
O trio chegou à gare, um funcionário encaminhou-os ao vagão especial, já atrelado à composição.
Aquele homem robusto, taciturno, com lágrimas nos olhos entregou as mulheres ao funcionário. Sem qualquer reação elas o acompanharam. Sr.Mário, o funcionário após acomodá-las trancou a porta do vagão, deu um apito e o trem seguiu seu destino levando aquelas duas criaturas para o hospício estadual, de onde provavelmente nunca sairiam com vida.
Seu Joaquim permaneceu em pé na gare, os olhos cheios de lagrimas até o trem sumir na curva da estrada de ferro.
Os vizinhos se chegaram para consolá-lo com as expressões usuais.
Alguns meses após encontramos Seu Joaquim na praça do coreto de braços com uma mulher mais nova escutando o dobrado Saudades da Minah Terra.
F I M
CARMA -LEI DE CAUSA E EFEITO
CARMA – LEI DE CAUSA E EFEITO
EDUARDO P. F. NETTO
NÃO BASTA INDA DE DOR Ó DEUS TERRÍVEL?!
É POIS, TEU PEITO ETERNO, INEXAURÍVEL
DE VINGANÇA E RANCOR?.
E QUE É QUE FIZ, SENHOR? QUE TORVO CRIME
EU COMETI JAMAIS QUE ASSIM ME OPRIME
TEU GLÀDIO VINGADOR?!
Castro Alves - Vozes d Àfrica
Tinha o poeta razão de assim vociferar contra Deus?
As igrejas cristãs manipuladas de acordo com os interesses do momento criou a imagem de um Deus realmente terrível que sem qualquer razão dá benesses a uns e sofrimentos incalculáveis a outros; faz nascer a uns em berços de ouro e a outros nas sarjetas.
Nos evangelhos cristãos há interpretações. conflitantes sobre seus textos, especialmente no que diz respeito à reencarnação. O versículo 3:3 de João, a nosso ver, não deixa dúvida com relação à reencarnação; reza ele: Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Há outros versículos sobre este assunto.
De acordo com as interpretações das entidades cristãs o poeta, a meu ver, até que teria razão de questionar o Criador.
O Kardecismo veio trazer a lume alguns dos ensinamentos dos grandes mestres anteriores a Jesus Cristo, tais como a reencarnação e a lei de casa e efeito(carma).
De uns vinte anos a esta parte surgiram várias religiões de origem oriental: Índia, Japão e China difundindo os ensinamentos da Vedanta e do Budismo, todas elas baseando seus ensinamentos nas leis do carma e da reencarnação, para justificar o sofrimento humano.
A base, entretanto de seus ensinamentos é despertar a criatura humana de sua natureza original de Filho de Deus e com isso a conscientização de sua Unidade com Ele: “Eu e o Pai somos um só”.
A Ioga é um dos instrumentos das religiões orientais mais conhecidos, especialmente pela Hata Ioga, entretanto essa técnica é apenas uma das partes dela. A Ioga global ou Raja Ioga compõe-se da Karma Yoga (Ioga da ação), da Jnani Yoga (A ioga da sabedoria) e da Bakti Yoga ( a Ioga devocional). Como vemos, cada uma destas partes atua individualmente nos três níveis: físico, mental e espiritual. Na Raja Ioga o devoto trabalha no sentido de desenvolver simultaneamente esses três níveis.
O Mahavatar Babaji deu a Raja Yoga a nova denominação de Kriya Yoga, adicionando aos antigos ensinamentos o conceito da unicidade das religiões e demonstrando em seus ensinamentos a perfeita concordância dos ensinamentos de Jesus Cristo e de Sri Krishna. Inúmeros textos bíblicos são cotejados com textos do Bagavad Gita (Canção do Senhor- texto religioso indu).
O livre arbítrio é uma característica exclusive do ser humano e é justamente o uso que fazemos desse livre arbítrio que nos leva a uma boa ou má reencarnação; aliás, pensando bem, não há uma boa encarnação propriamente dita, pois só voltamos a essa Terra para resgatar erros e aprender. O que dizemos ser uma boa encarnação é o fato de ter uma vida saudável, financeiramente estável, etc., mas toda ela sempre traz em seu bojo algum tipo de sofrimento. Sofre-se por um amor perdido, sofre-se porque o time de futebol não ganhou o campeonato; sofre-se porque perdeu o pai ou a mãe, sofre-se pela ingratidão de alguém, sofre-se por inveja ou porque se perdeu alguma coisa, por ter sido roubado, enganado, sofrido violência, etc. Toda vida do ser humano é marcada por algum tipo de sofrimento.
Deus não se vinga, não é cruel. O que há é a perfeita e justa lei de causa e efeito (carma): “não faças aos outros o que não queres que te façam”(Regra de Ouro do Confucionismo), “Quem com ferro fere com ferro será ferido”( Provérbio Popular), “O que aqui se faz, aqui se paga”(Provérbio Popular); O bem com o bem se paga (Provérbio Popular).
Às vezes esse resgate cármico se dá numa mesma encarnação, outras vezes nas encarnações seguintes. Pessoas nascerem cegas, deficientes, paupérrimas, escravas, etc. estão resgatando ações negativas de vidas anteriores. Há naturalmente casos e casos e, em verdade, cada caso é um caso. Não dá para generalizar quando se trata das coisas de Deus.
Certamente se nosso poeta tivesse conhecimento dessas leis não teria questionado nosso Criador. Sua compaixão pelo sofrimento dos povos do deserto africano e o trabalho em prol da libertação dos escravos no Brasil deve ter lhe proporcionado, quem sabe, a total libertação de seus carmas negativos e conseqüentemente a salvação de sua alma de escol.
FIM
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