domingo, 31 de agosto de 2008

ANASTÁCIO- UM BURRO INTEIGENTE

ANASTÁCIO= UM BURRO INTELIGENTE

Aplausos, gritos e assobios marcaram o fim do espetáculo.
A ultima apresentação da noite, como de costume fora dada por um burrico de pouco mais de metro e meio de altura adquirido anos antes pelo Circo Alegria, antes em franca decadência
Em verdade era um animal impar, as coisas que fazia deixava a todos desconfiados sobre sua natureza animal; era mesmo um animal ou algum humano fantasiado? As quatro operações executava mais rapidamente que algum espectador convidado, cujo nome ele soletrava apontando as letras num quadro colocado ao chão; se alguém pedia para localizar um determinado objeto ele saía procurando e ao encontrar balançava a cabeça e zurrava. Muitas outras proezas fazia o pequeno animal.
Contavam-se as estórias mais loucas acerca de sua
natureza; a mais corrente dizia o seguinte:
Um cidadão já entrado em anos, conhecido como Comendador Pedro sentado à sombra de generosa árvore meditava sobre a interdependência e o carma. Absorto, foi desviado do seu mister pelo zurrar de um burro que se aproximava de uma fêmea no cio, com óbvias intenções. Ao mesmo tempo o comendador, dotado de extraordinários poderes ocultos "sentiu " que pairando na área, vagava a alma de seu amigo e mestre Raul, recém falecido. Essa alma estava à procura de oportunidade para reencarnar e assim continuar a missão de orientar os mais novos, na sabedoria milenar de seus ancestrais. O comendador se alvoroçou todo diante da possibilidade do amigo reencarnar como um burrinho. Nesse quase desespero viu a alguma distância uma jovem que estendia roupas no gramado; levantou-se correu para ela, jogou-a ao chão, não havia tempo para explicações, tentou fazer sexo, a fim de atrair a alma do amigo para reencarnar como seu filho.
A moça gritou, debateu-se e por fim saiu gritando nas carreiras para casa, perseguida pelo referido.
Acudida pela mãe a jovem contou-lhe o ocorrido.
A mãe indignada brigou com ela, bateu-lhe e por fim
mandou-a procurar o comendador e se entregar a ele, pois seria uma honra muito grande para a jovem ter um filho daquele cidadão.
O comendador que se aproximava, ouvindo as palavras da
mãe, balançou negativamente a cabeça.
_ É tarde, os animais já consumaram o cruzamento.
Desconsolado voltou onde estava a jumenta e levou-a para sua mansão, onde foi criada com toda deferência, afinal era a alma de seu amigo Raul que nela iria reencarnar.
Na época apropriada deu à luz o lindo rebento a quem deu o nome de Anastácio.
Desde seu nascimento o animal se revelou fora do comum; demonstrava uma sabedoria extraordinária.
Lá um dia surgiu o amigo Joaquim em visita ao comendador que encantado com as habilidades do muar e de seu potencial financeiro tratou de comprá-lo.
A venda daquele animal foi cercada de grandes dificuldades; Anastácio negava-se a deixar a mansão, batia as patas, deu coices, saiu em desabalada carreira pelo campo, escondeu-se no mato e até tentou suicidar-se, mas por fim após muitas peripécias foi colocado numa jaula. O bicho zurrava, batia as patas e até lágrimas viram escorrer de seus olhos. Chegou por fim ao velho continente. Joaquim de imediato procurou a quem vendê-lo.
Na época apenas um circo mambembe estava atuando na área e Joaquim precisava urgentemente de se desfazer do animal, já estava sem dinheiro. Entrou em contato com o proprietário que, apesar de ficar encantado com a possibilidade de levantar o circo, em franca decadência, não tinha dinheiro para comprá-lo.
Acertaram uma sociedade e por fim Anastácio passou a ser a estrela maior do circo, atraindo a cada dia maior número de espectadores.
Em verdade não foi fácil "convencer" o quadrúpede a
“colaborar”, mas alguns corretivos e um tratamento diferenciado, transformaram-no no mais célebre espécime de sua raça, levando muita alegria para uns, dúvidas para outros e muito lucro para o circo. Isso é o que se contava causando polêmica entre as diversas correntes religiosas. Umas concordavam com a possibilidade de, como castigo, uma alma humana reencarnar como animal, outras negando essa possibilidade alegando que por pior que fosse a alma sempre tem alguma evolução, não pode regridir.