domingo, 4 de maio de 2008

O Fantasma da Gabriel dos Santos

O FANTASMA DA GABRIEL DOS SANTOS

Dr. Amílcar era um tipo curioso, metódico, sistemático; diariamente saía a caminhar com seu cãozinho Lulu: um vira light, pequeno, branco, peludo, de olhos vivazes, encontrado anos antes abandonado na rua, doente e com visíveis sinais de maus-tratos; apiedara-se do animalzinho e recolheu-o à mansão para desgosto da governanta.

Naquele caminhar diário percorria todo o quarteirão da rua Dr. Gabriel dos Santos. Entrava e saía anos e aquela rotina não sofria alterações, dizia-se até que se podia acertar os relógios pela regularidade com que iniciava seu passeio

O desembargador era uma figura impressionante, de aparência distinta, alto, robusto, basta cabeleira branca quase lhe caindo aos ombros; barba e bigode imensos; vivia abandonado pelos filhos que não lhe toleravam o sistema de vida, tinha apenas por companhia a idosa governanta e Lulu

O passeio durava cerca de uma hora, parando aqui e acolá para Lulu satisfazer suas necessidades fisiológicas ao pé de qualquer poste ou pneu de carro estacionado. Os excrementos do canino, quando aconteciam eram recolhidos pelo desembargador, coisa sempre louvada pelos que o conheciam. Após seu passeio voltava à mansão, um prédio de dois andares em estilo renascentista; salões imensos, quadros de pintores célebres pelas paredes; uma biblioteca invejável onde por uma televisão enorme, assistia os jogos não muito importantes de seu time favorito. Os jogos mais importantes ia assistir no estádio.

Um domingo, meio entediado em casa resolveu ir assistir um fraco no estádio de seu time.O adversário era um time recém-saído da segunda divisa, não era páreo para o seu.
Começou o jogo e Estrela do Norte, seu time do coração já estava vencendo por dois a zero no primeiro tempo. Começou o segundo tempo e logo no início um pênalti não existente marcado pelo juiz originou um gol do seu adversário. A torcida gritava, chamava juiz de ladrão, mas não houve jeito, gol foi validado. Seguiu-se o jogo e algum tempo após, um jogada mais forte de um dos jogadores do Estrela foi expulso de campo; a arquibancada quase veio abaixo. O jogo continua e mais adiante o goleiro do Estrela deixa passar um frango. A torcida quase enlouquece e dali para frente, embora incentivando, o time estava de orelha em pé, No último minuto de jogo, outra falta inexistente próxima da área do Estrela deixa a torcida inquieta. O silêncio é total; o juiz apita, e sai o chute certeiro para as redes.

O coração do desembargador não suportou, uma dor aguda, a mão no peito e ele “passa dessa para a melhor”.

Dias após esse evento, e por muito tempo, viu-se o desembargador fazendo sua ronda diária com Lulu que resolveu acompanhar seu dono.