segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O TIGRE DE BENGALA

Chandu... Chandu... Chandu...
Era grande a gritaria dos espectadores aclamando o feito do grande vencedor de tigres após mais uma das muitas de suas façanhas contra um enorme animal recém apanhado nas florestas do Himalaia.
Chandu um camponês franzino e magricela foi atacado certa vez por um tigre enquanto trabalhava em sua lavoura de trigo. Salvo pelos amigos prometeu a si mesmo tornar-se tão forte que enfrentaria de próprio punho todos os animais daquela espécie que se aproximassem de sua cultura.
Naqueles tempos era comum o surgimento de tigres e outros animais ferozes nas proximidades dos povoados a procura de comida.
O treinamento intensivo a que se submeteu, em poucos anos transformaram-no num tipo extremamente forte, bastante musculoso.
No período de cinco meses conseguiu matar ou amansar três tigres apenas com murros e pontapés violentos. Sua fama espalhou-se rapidamente. Vencido pelo orgulho decidiu ganhar a vida daquela forma.
_ Meu filho, ontem enquanto sentado em meditação fui abordado por um Sadhu. Pediu- me avisá-lo para suspender suas atividades de matanças e domesticação dos tigres. O conselho das selvas determinou aplicar-lhe severo castigo caso não abandone essas atividades.
_ Que é isso, pai, está agora acreditando nas fantasias de algum lunático que se faz passar por sábio?
_ Disse-me ainda o Sadhu que você deveria entrar para um ashram e dedicar-se à busca de sua unidade com o Criador.
_ Muito obrigado pai, mas estou indo muito bem com minhas lutas e esse conselho das selvas que trate de orientar seus membros a não se aproximar do povoado.
_ Filho, não zombe assim das coisas que você teima em não acreditar.
_ Por favo pai, não me obrigue a me afastar de minhas atividades.
_ O pai, saiu em silêncio, lamentando a falta de consciência do filho..
Grande potentado da região conseguiu capturar uma fêmea de tigre de Bengala, enorme, recém parida ferocíssima, ninguém conseguia amansá-la. Alguém lhe lembrou a existência de Chandu, louvando-lhe os feitos extraordinários com mais alguns exageros. Entusiasmado, mandou convidar Chandu para amansar sua tigreza.
O enviado traçou um perfil terrível do animal. Chandu simplesmente balançava positivamente a cabeça, aceitando o desafio para dentro de uma semana. Uma nuvem escura naquele instante toldou-lhe a visão.
O prêmio por sua vitória, em ouro, presentes e rúpias seria elevadíssimo, informou o enviado.
O potentado mandou armar um grande pavilhão e dentro deste um engradado reservado para a luta, dias antes passou a reduzir a alimentação da tigreza. No último dia deixou-a completamente em jejum. Havia bancado um sem numero de apostas, algumas bastante elevadas na vitória de seu animal. Com aquelas providências esperava garantir sua vitória. Ao Chandu fora proibido qualquer contato com o animal antes da luta, temia que ela fosse influenciada de alguma forma pelo lutador.
Chegou o grande dia. O circo estava repleto, todos aguardavam impacientes aquele momento em que homem e fera se enfrentariam.
Abrem o portão da grande jaula, Chandu entra sob a aclamação do povo. Vai à frente e faz mesuras abrindo os braços mostra seu tórax avantajado, mãos e bíceps enorme. A algazarra aumentava a cada mesura.
Aproxima-se a jaula do animal. A tigreza movimenta-se inquieta de uma lado para outro faminta, soltando rugidos terríveis.O povo aplaudia-a entusiasmado. Era um belo animal enorme.. A bocarra mostrava caninos enormes.
A grade da jaula é levantada e ela salta para a arena, corre e salta sobre Chandu que a recebe com formidável soco jogando-a ao chão. O povo grita Chandu... Chandu....
Em novas mesuras o lutador volta-se para agradecer a aclamação. A tigreza recomposta salta-lhe às costas ferrando as enormes garras. O sangue jorra abundante do lutador. Chandu num esforço desesperado joga-se ao chão com o animal, vira-se passa a lhe desferir murros e mais murros, deixando-a finalmente desacordada.
O lutador levanta-se sob o aplauso do povo. Auxiliares entram na arena e prestam algum tipo de socorro ao vencedor, cujas costas continuavam sangrando.
A tigreza ainda desacordada foi fortemente acorrentada, arrastada e jogada na jaula.
Chandu sai aplaudido entusiasticamente, muitas rúpias lhes foram jogadas aos pés, muitos presentes ganhou e a recompensa prometida lhe foi solenemente entregue pelo potentado.
O vencedor, embora financeiramente enriquecido, não saiu ileso do combate, as garras do animal em suas costas causaram danos irreversíveis e ele não pôde mais se dedicar àquelas lutas; o vaticínio do Sadhu se concretizara.






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