quinta-feira, 17 de abril de 2008

Walkiria

O VAMPIRO DA ALDEIA


Cap I

A lua cheia espargia seus raios prateados sobre a mansão de Walkiria, a feiticeira da aldeia.

Era uma mulher terrivelmente bela. Os cabelos negros como noite sem lua a lhe descer à cintura; os olhos igualmente negros, brilhantes, fascinantes, hipnóticos; os lábios vermelhos, carnudos, sensuais; o corpo escultural movimentava-se em meneios lascivos. Um tipo de mulher que homem nenhum deixava passar sem se voltar para admirar.

Contava-se à boca miúda que tinha mais de duzentos anos e que mantinha aquela aparência jovem graças à vitalidade de um grupo de jovens de ambos os sexos dos quais por processos de baixa magia sugava a vitalidade.

O grupo era formado por sete rapazes e algumas moças, todos muito jovens e bastante saudáveis, porém, periodicamente precisavam ser substituídos, pois estavam tão debilitados que mal se punham em pé. Toda sua vitalidade havia sido sugada pela feiticeira, e ela, tinha um trabalho enorme para realizar essa substituição.
Em geral viajava para cidades vizinhas, onde não era conhecida a cata de novas vítimas, pois ali na aldeia já era sobejamente conhecida e ninguém a deixava aproximar-se muito de seus filhos. À sua passagem portas e janelas fechavam-se rapidamente. As mães escondiam seus filhos, faziam o sinal de cruz e pronunciavam alguma coisa a guisa de exorcismo.

Procurava as festas e os locais preferidos pela juventude, onde armava sua teia e esperava. Exímia dançarina, permanecia sentada bebericando alguma bebida cara até que um jovem menos tímido lhe tirava para dançar. Se era um jovem de grande vitalidade e lhe despertasse o interesse, a feiticeira já o envolvia e influenciava hipnoticamente.

Dançava com sua vítima até tê-la totalmente em suas garras e por fim levava-a à sua mansão. Durante três ou quatro meses, às vezes até mais, ninguém teria notícia do infeliz rapaz, até que surgia numa cidade distante, semimorto e sem memória, um verdadeiro zumbi

Era uma festa de debutantes, filhas de conhecidos figurões da sociedade de uma cidade distante. Tinha lido a notícia na coluna social de um jornal da capital. De pronto se preparou para o evento. Não poderia jamais perder aquela oportunidade. Filhos de famílias ricas são bastante saudáveis.

No dia anterior ao esperado debut mandou preparar seu carro – um Rolls Royce preto forrado de vermelho - e viajou para a cidade hospedando-se no melhor hotel. Lá pelo meio da tarde preparou-se adequadamente e saiu a reconhecer os arredores e a desfilar sua beleza pelos locais em que a nata da sociedade costumava passar.

No dia do evento, na cidade só se falava naquela mulher. Todos admiravam sua beleza, seu porte, seu corpo, seu andar felino. Estava em todas as bocas.

A noite preparou-se adequadamente para a festa. Um vestido de cetim negro, brilhante com decote bastante generoso e por cima uma mantilha vermelha salpicada de pequenas estrelas prateadas acompanhava adequadamente as formas do seu extraordinário corpo. Pintou os lábios moderadamente, perfumou-se com um perfume especial, à base de almíscar, capaz de enlouquecer qualquer homem. Pôs uma tiara de prata sobre a cabeça. Pediu o seu carro, um motorista do hotel e dirigiu-se à sonhada festa; um acontecimento excepcional na cidade.

Chegou à mansão onde a festa já havia começado, desceu do carro e subiu as escadarias até à entrada, onde dois porteiros recebiam os convidados, recolhendo os indispensáveis e selecionadíssimos convites.

À medida em que ia se aproximando, os porteiros iam ficando perturbados com aquela mulher. Era um verdadeiro deslumbramento. Deixaram-na passar. Nem se lembraram de lhe exigir o convite. E ela entrou. Todos pararam para olhá-la.

_ Quem é, de onde veio? Ela não é daqui!

_ Nossa, que beleza!

O sucesso de Walkiria era absoluto. Ninguém lhe perturbou, era uma peça rara de estatuária, só admiração dos homens e inquietação das mulheres.

Quem iria ter a indelicadeza de perguntar quem era ela? Certamente seria parente de alguma das debutantes da noite.

Walkiria encontrou uma mesa vazia. Um cavalheiro da mesa vizinha, rapidamente pediu licença, tirou-lhe delicadamente a mantilha colocando-a na cadeira e convidou-a a sentar, regressando em seguida à sua mesa sob os olhares furiosos da esposa.

No salão dançava-se ao som de uma música barulhenta, própria dos jovens.
Foi servida por um garçom solícito que se apressou em despejar champanhe em sua taça, saindo em seguida para se vangloriar aos amigos.

Os rapazes dardejavam sobre ela olhares afogueados de desejos. Walkíria sentia-se como uma raposa que de repente se visse sozinha num galinheiro cheio de galinhas gordas, e sem um cão de guarda por perto para protegê-las. Ria intimamente, satisfeita com o sucesso que vinha fazendo.

Passou a noite flertando com todos os rapazes e cavalheiros. Por fim encontrou um jovem de compleição atlética, envolveu-o num olhar fascinante e dentro em pouco o rapaz estava totalmente subjugado.

Ao fim da festa pediu-lhe para acompanhá-la ao hotel, pois viera à festa sozinha; era viúva.

O rapaz sentiu-se no paraíso e já antegozava das delícias de uma noite ao lado daquela mulher deslumbrante. Certamente iria fazer muita inveja aos colegas da empresa. Nunca tivera nos braços uma mulher tão bonita, ia ser um sucesso.

Antes que a festa terminasse saiu de braços com o acompanhante e pediu seu carro, que por si só já era uma festa.

Cap.II

_ Por favor, Roberto, dirija-o para mim. Dispensei o motorista do hotel. O rapaz sentiu-se sonhando. Um manobrista abriu a porta do carro dando passagem à jovem, enquanto o rapaz pelo outro lado tomou a direção, ligou a ignição e deu partida, tendo ao lado a mulher que o mantinha num permanente estado de fascinação.

O carro seguiu pela estrada em velocidade moderada. Alguns quilômetros após a bruxa começou a se insinuar junto ao rapaz, envolvendo-o com uma conversação livre e insinuando a possibilidade de uma inesquecível noite de amor.

Por fim chegaram ao hotel. A jovem convidou-o a subir ao seu apartamento. Roberto seguiu-a como um autômato.

Aquela noite foi de glória para Roberto. Walkíria era insaciável e ele não ficava para trás. Fizeram amor a noite toda. Acordaram ao meio dia, ela lépida e alegre. Ele ainda extenuado pelo excesso de sexo.

Pediram uma refeição no apartamento e enquanto comiam a bruxa sugeriu que Roberto fosse passar alguns dias com ela em sua mansão. Ele não pensou duas vezes. Aquela mulher lhe dera prazeres jamais sentidos e ele a queria para si. Faria qualquer coisa para tê-la ao seu lado eternamente. Estava, ou julgava-se estar apaixonado por aquela mulher.

O rapaz totalmente ignorante das artes mágicas pouco se incomodou quando a megera guardou cuidadosamente a toalhinha higiênica com seu sêmen "como lembrança", disse ela, daquela noite memorável.

Após a refeição viajaram diretamente à mansão da feiticeira. Alberto já não pensava nos pais, nem na firma onde trabalhava e na qual exercia um cargo de alta responsabilidade, estava totalmente sob as garras da bruxa.

Chegados à mansão foi instalado num luxuoso apartamento. Pequeno bar com vários tipos de bebidas, TV com vídeo; uma bela coleção de fitas dos mais variados tipos de filmes. Uma estante cheia de livros de autores conhecidos, aparelho de som com CDs para todos os gostos, e para maior prazer de Alberto um microcomputador com as mais recentes inovações da informática. Sentiu-se num verdadeiro paraíso. Sua capacidade de raciocínio não lhe foi suficiente para perceber que tudo aquilo era uma armadilha e que já estava totalmente preso nela.

Aquela foi outra noite gloriosa para Alberto. Fizeram mais uma vez amor a noite toda.

Pela manhã saiu a reconhecer a propriedade. A mansão contava com lindos jardins, quadras dos mais variados esportes e uma enorme piscina onde vários jovens se banhavam.

Foi apresentado a todos. Estranhava o fato de serem apáticos, eram praticamente autômatos, pareciam não ter almas. Foi-lhe explicado que eram jovens com problemas psíquicos e que ali estavam em tratamento.

Após o almoço descansou um pouco, ouviu música, assistiu filmes pela TV.

Lá por volta das dezessete horas , bateram à sua porta. Um criado veio avisar que dentro de sessenta minutos iria ser servido um chá no salão nobre da mansão.
No horário aprazado Alberto entrou no salão, aguardando o chá. Logo. Entrou Walkíria e sentou-se em seu colo, beijando-o suavemente. Tocou um pequeno gongo e surgiu um criado trazendo uma bandeja com um bule de chá, xícaras e bolinhos que ofereceu ao rapaz. Despejou chá nas xícaras e ofereceu açúcar a Alberto. Ela tomou-o amargo. No açúcar havia uma substância altamente narcótica. Evitava com isto alguma surpresa por ocasião da cerimônia que iria acontecer dentro de algumas horas.

Cap. III
Era uma sexta feira de lua nova, o relógio da matriz batia ao longe as doze badaladas da meia noite. Tinha início a décima terceira hora.

Nos subterrâneos da mansão, num templo dedicado às entidades goéticas, a bruxa fez os últimos preparativos para sua grande operação.

Na parede sul do templo, um altar acima do qual o Bode do Sabat dominava todo o ambiente.

A feiticeira jogou um punhado de incenso mal cheiroso e sufocante num braseiro, acendeu uma vela preta em cada canto do círculo negro inscrito no chão, em seu centro via-se pintado um pentagrama invertido cheio de inscrições e figuras infernais.
Tirou de uma pequena urna, duas toalhinhas higiênicas; uma com o sêmen de Alberto e outra com seu mênstruo. Colocou as duas peças no centro da estrela e iniciou uma melopéia infernal. Eram gritos, imprecações e promessas de sexo com satã em troca da amarração de Alberto.

O rapaz sentado num banquinho entre as pernas da estrela, tudo assistia sem reação, não tinha qualquer condição de raciocínio lógico e jamais poderia avaliar que através daquela cerimônia aquele vampiro estava se assegurando que a cada vez que mantivesse contato sexual consigo, estaria lhe sugando a vitalidade e assim garantindo a juventude infernal da bruxa.

A cada dia Walkiria mantinha relações sexuais com um dos rapazes; se é que se podia chamar de relação sexual aquele ato de vampirismo.

O que ela gostava mesmo e sentia prazeres infinitos era com as moças a quem mantinha igualmente sob total domínio.

Os rapazes a cada dia ficavam mais fracos até que por fim nada mais restasse senão um corpo praticamente sem alma, quando eram jogados sem piedade à beira de uma estrada bem longe do local de sua mansão. Esse também seria o destino de Alberto, dentro de alguns meses
Cap. IV
Ao fim da festa os amigos procuraram por Alberto para voltar para casa, pois tinham vindo de carona em seu carro. Estranharam o comportamento do rapaz, mas ao saberem que havia saído em companhia da bela desconhecida se conformaram. Um dos serviçais da festa aproximou-se dos rapazes e entregou-lhes a chave do carro de Alberto informando-os que o proprietário havia pedido que um deles o levasse à sua casa.

No dia seguinte na empresa em que trabalhava, todos estranharam a ausência de Alberto. O chefe perguntando por ele a um dos seus mais íntimos amigos, soube do ocorrido. Não gostou da falta do rapaz, mas "entendeu" o seu porquê e conformou-se também.

Passou-se uma semana e Alberto não regressou ao serviço, ligaram para a sua residência e nada souberam informar. Alberto sumira .

Os pais colocaram anúncios nos jornais. Procuraram-no por toda parte. Só sabiam mesmo que o rapaz saíra com uma bela desconhecida e desaparecera por completo. Assim se passaram três semanas.

Na firma em que Alberto trabalhava, havia um rapaz muito sério, que se dedicava, segundo diziam ao estudo das ciências ocultas. Por ser ainda muito jovem ninguém lhe levava muito a sério, mas naquelas circunstâncias, sem ter para quem apelar, lembraram-se do rapaz. Trabalhava Áureo num departamento, dois pavimentos abaixo do de Roberto, e embora estranhando a falta de contato com o amigo tinha levado esta falta ao excesso de serviço e só agora tomou conhecimento da real situação.

Eram bons amigos e já há algum tempo cogitara de levar Alberto à sua escola de ocultismo. Achava que o rapaz tinha boas qualidades e que seria uma ótima aquisição para sua sociedade. Ficou muito preocupado com o caso e prometeu aos colegas que o procuraram que iria buscar uma resposta a todo aquele enigma.

Em casa à noite, Áureo deitou-se num divã e sobre a testa pôs uma lapiseira de Alberto que fora buscar em sua carteira de trabalho.

Começou por controlar a respiração, simplesmente enchendo e esvaziando ritmicamente os pulmões. Em seguida concentrou-se no objeto e procurou tornar vazia a mente. Em poucos minutos começou a se delinear em sua visão interior, a lapiseira e seus componentes; de onde veio, como foi fabricada etc., mas não era isto que o Áureo desejava. Passou a se concentrar mais firmemente na imagem do amigo, mas sempre que pensava nele, nuvens escuras toldavam sua visão. Nestas alturas Áureo já intuíra que algo de anormal havia acontecido com o colega de trabalho. Suspendeu aquela sessão de psicometria e dirigiu-se à mesa no centro da sala; sobre a qual uma caixa de madeira guardava uma bola de cristal, envolta em veludo negro. O adepto tirou a bola da caixa, limpou-a adequadamente e recolocou-a em seu pedestal. Sentou-se diante dela, fixando o olhar em seu interior.

As mesmas nuvens negras invadiram o interior do objeto. Áureo levantou-se e fez alguns sinais misteriosos. As nuvens desapareceram e surgiu no interior da bola uma figura que lhe causou horror. O corpo de Alberto estava envolvido por enorme aranha cujas garras negras e peludas lhe sugavam violentamente a vitalidade. A cabeça da aranha era de uma jovem belíssima. Na visão de Áureo surgiu uma igreja com um relógio em todas as faces da torre. Um cata-vento com um galo em cima e também uma estação ferroviária com o nome da aldeia. Em sua mente também lhe veio o nome de Walkiria.
Enquanto essas cenas se passavam ele viu na bola de cristal a aranha se retorcer e fincar mais e mais suas garras no corpo de Alberto que deu um horrível grito de dor.

Walkiria nesse momento se viu descoberta e conscientizou-se de que havia mais alguém interessado em sua vítima. Não, não iria libertá-lo, ainda tinha muito o que tirar dele em quem muito investira. Sabia que teria de lutar, mas nada temia, tinha todos os trunfos nas mãos. Quem viesse enfrentá-la morreria com sua vítima.

Áureo contou o caso a seus chefes na empresa; ficaram horrorizados, jamais poderiam imaginar coisas assim acontecendo em pleno século XX, quase já século XXI. Deram uma semana de licença ao adepto e este se preparou para ir salvar o amigo.

Procurou se informar da localização da aldeia, de como lá chegar, e em que hotel se hospedar. Na quarta- feira dirigiu-se para a localidade.

Ocupou um quarto num pequeno hotel e imediatamente começou a se informar com os habitantes sobre a feiticeira.
Não foi difícil localizar a mansão da bruxa, mas cada pessoa consultada estampava uma fisionomia de horror; a mulher deveria ser realmente terrível.

Na quinta feira por volta das vinte e duas horas pegou um táxi e dirigiu-se à mansão da megera, pedindo ao motorista para esperá-lo fosse qual fosse o tempo da demora.

À sua chegada as portas da mansão abriram-se misteriosamente. Caminhou pelo hall e intuitivamente foi em direção a um aposento à sua frente; a porta abriu-se também de forma misteriosa, deixando ver em seu interior a entrada para os porões. Áureo continuou seguindo em frente. Uma cortina de veludo escarlate impediu-lhe a passagem; abriu-a e no centro do vasto salão viu Alberto deitado no chão, no meio de um círculo negro. A cada lado uma vela preta. O fumo de um incenso fétido impregnava todo o ambiente. De pé em posição de desafio estava Walkiria.

_ Entre meu amigo, estava lhe esperando.
_ Mulher maldita, o que fazes?
_ Bem sabes o que faço, porque perguntas?
_ Tens razão. Venho pedir-te por esse rapaz.
_ Pedir? Ah, Ah, Ah, pedir! Você vem me pedir? Repetia a feiticeira jocosamente.
_ Sim, venho pedir-te retrucou Áureo humildemente.
_Pois, pedes inutilmente. Investi muito nesse infeliz, não vou dispensá-lo sem mais nem menos.
_ Pede o que quiseres: dinheiro, ouro, qualquer coisa.
_ Ah, Ah, Ah, não banques o inocente. Bem sabes que não preciso destas coisas. Tu o queres? Poderás consegui-lo!
_Como? Qual é o preço?
_ Tu o substituirás!
Naquele momento o coração de Áureo bateu aceleradamente. Estava preparado para tudo, mas não para aquilo. Se aceitasse a troca para salvar o amigo, certamente após ter sido sugado em toda sua vitalidade, seria jogado semi morto mais cedo ou mais tarde em qualquer beira de estrada. Nesse momento lhe veio à mente as palavras da canção: "prova de amor maior não há, do que doar a vida pelo irmão". Como eram bonitas aquelas palavras, mas quão cruéis naquela situação. Ele ainda jovem, com grande potencial de trabalho pelo bem da humanidade, de repente ter de fazer tal barganha com aquela mulher que lhe olhava zombeteiramente. A humanidade sairia perdendo com aquela troca. Alberto era um bom rapaz mas teria de voltar ainda muitas vezes à terra para alcançar o estado de espiritualidade de Áureo. Alberto neste estágio de vida só pensava em gozar dos prazeres da vida.
_ Em que pensas? Achas o meu preço muito alto ? Deixarás morrer o teu amigo? Onde está o amor que tanto pregas?

Áureo estava meditativo, pensando sobre as conseqüências do que iria fazer, de repente levantou a cabeça altivamente e disse:
_ Muito bem, mulher cruel, aqui me tens, despojado de qualquer indecisão. Toma-me em substituição à tua inocente vítima.
_ Aguarde um pouco!

Walkiria voltou-se para o altar e em terríveis imprecações comunicou à sua entidade satânica o que iria fazer. Ao longo se ouviu uma gargalhada debochada. Pronunciou uma invocação, apagou as velas, retirou alguns objetos rituais do círculo traçado com carvão, apagando-o em seguida. Ao som de uma sineta surgiram alguns criados que levantaram Alberto . Deram-lhe uma beberagem e em pouco tempo o rapaz ficou consciente.

_Oh, onde estou? Áureo o que veio fazer aqui? Por que é que eu estou aqui?

Olhou à sua volta e se deparou com Walkiria, mas não tinha a mínima idéia do que lhe acontecera. Igualmente havia também perdido a noção do tempo.
_ Áureo o que veio fazer aqui? - perguntou novamente.
_ Nada perguntes Alberto. Saia daqui. Tirou algum dinheiro do bolso e deu ao amigo. Há um táxi esperando aí fora, volte imediatamente para sua casa. Um dia, talvez, saberás o que aconteceu.

Alberto se foi. Áureo ficou na mansão à disposição da feiticeira, que mostrava-se felicíssima. Jamais conseguira uma presa tão valiosa. Um verdadeiro adepto, iniciado nos grandes mistérios, senhor de poderes incalculáveis, estava agora ali aos seus pés pronto a se sacrificar por um tipo comum e sem qualquer qualidade senão a força bruta e a juventude. Estava vivendo um dia de glória.

Áureo recolheu-se ao aposento que lhe foi indicado e sem comer ou beber qualquer coisa, permaneceu longo tempo em estado meditativo. Meditou sobre a vida dos grandes mestres da humanidade e sobre Jesus que entregou-se conscientemente a seus algozes para salvá-la . Seu pequeno ego pensou então que Jesus veio salvar toda a humanidade e não a um único ser. Será que valeria à pena aquele sacrifício?

A voz do seu Eu Superior refutava: sim meu filho, teu sacrifício terá incalculável repercussão em mundos superiores. Inúmeras pessoas serão salvas com esse teu exemplo de abnegação e desprendimento.

Por fim, tendo aceito o sacrifício, adormeceu.

O sono , entretanto, foi perturbado por visões terríveis. Ele via aquela mulher transformada em gigantesca aranha negra, se atracar em seu corpo e através de suas garras sugar-lhe a vitalidade, e enquanto ele sofria dores lancinantes a feiticeira gargalhava ruidosamente, feliz, sentindo-se rejuvenescer a sua custa .

Acordou-se assustado. Olhou para os lados, mas nada viu de anormal. Foi apenas um sonho mau. Voltou a dormir.

V

Áureo estava no centro do círculo, totalmente despido, substituindo Alberto.

Toda aquela satânica parafernália pronta; a megera também totalmente despida iniciou suas evocações às infernais entidades. Alguns momentos após estava como que possuída pelo demônio. Soltava pelas narinas dilatadas uma fumaça sulfúrica. Os olhos esbugalhados como que a lhe saltar das órbitas. A bela e brilhante cabeleira estava agora totalmente desgrenhada, seus cabelos pareciam espinhos enormes a soltar faíscas. Após alguns passos esquisitos de dança começou a dar voltas em torno do círculo onde Áureo consciente de tudo aquilo, aguardava o desfecho daquela cerimônia infernal. De pé olhando para o rapaz a megera riu triunfante e jogou-se sobre ele, procurando se ajustar perfeitamente ao seu corpo. Procurava unir todos os seus centros vitais com os do rapaz e assim nessa posição por força de seus formidáveis segredos sugar-lhe a vida .

Áureo aceitou humildemente a tudo aquilo entregando sua vitalidade em troca da vida do amigo. Por quantos dias teria que passar por aquele sofrimento até ter sido totalmente sugado, não tinha a menor idéia, mas estava consciente de que durante muito tempo teria que se entregar aquele sórdido ritual até que seu organismo não tivesse mais capacidade de recuperação.

Um grito de terror ecoou à distância. Uma ventania estranha fez tremular as chamas das velas negras, que por fim se apagaram. A megera ficou totalmente perturbada. Nunca fora interrompida assim em plena operação. Sobressaltou-se. O que viu deixou-a furiosa e aterrorizada. Um ser de elevada espiritualidade, com uma esplendorosa aureola dourada estava diante do círculo. Pulou assustada e caiu urrando, contorcendo-se desesperadamente. _Mulher terrível, tua faina nefanda chegou ao fim! - falou-lhe a entidade.
_Não, não! Ó potências infernais, vinde socorrer tua serva. Ó Belzebu, ó entidades do mal. Vinde acudir vossa escrava, não me abandonem!

Uma gargalhada de deboche foi desaparecendo ao longe.
_ Teus senhores nada podem agora fazer por ti. Volta ao limbo de onde viestes!

Assim dizendo a entidade apôs sua mão direita sobre a cabeça da bruxa que contorcia-se desesperadamente.
_Não, não, tem piedade!

Como um balão de ar, a megera foi murchando aos poucos, até desaparecer totalmente.

Áureo ao notar a presença do ser e se ver livre da bruxa, levantou-se e ficou em posição de oração, agradecendo a Deus a inesperada salvação.
Após a feiticeira ter se dissolvido totalmente, o mestre voltou-se para Áureo e lhe falou docemente:

_Meu filho, tu destes neste momento a maior prova de amor que uma pessoa pode dar neste mundo fenomênico.

_Será que estou morto? - pensou Áureo.
_ Não meu filho, não estás morto. Mas neste momento é que como que o estivesses. Estás morto para as coisas do mundo material. Tua vida daqui para frente será um misto de vida material e vida divina. Te levarei secretamente para um mosteiro secreto e lá continuarás tua vida de amor à humanidade.
_ Mas senhor, eu não tenho condições. Tenho tanta coisa para fazer ainda por aqui!
_ Tua missão aqui acabou. Uma nova e bem mais importante te espera. Para todos os efeitos, estás morto. Para os teus amigos e familiares, simplesmente desapareceste da face da terra. Esta notícia será propalada em toda parte, para que teu exemplo de abnegação e amor ao próximo possa servir de exemplo a todos.

_ Eu não estou preparado, pai, não estou preparado para tanto!
_ Ficaremos aqui na mansão até termos devolvido perfeitamente bem todos os rapazes e moças, vítimas da bruxa, então poremos fogo em tudo aqui e seguirás comigo.

O mestre e Áureo cuidaram dos jovens durante uma semana inteira e devolveram-nos às respectivas famílias sãos e salvos, explicando-lhes o ocorrido e sumindo em seguida sem esperar qualquer agradecimento.

Após a última jovem ter sido entregue, atearam fogo à mansão e desapareceram.

Dizem que durante muito tempo quem à noite passasse por aquele local costumava ouvir os terríveis gemidos da bruxa.

No carro da bruxa Áureo e seu mestre viajaram por vários dias, chegando por fim a uma região montanhosa coberta por centenária floresta.

O veículo foi jogado num despenhadeiro e os dois seguiram durante várias horas por trilha estreita entre árvores gigantescas. Por fim entraram por uma abertura ao pé de enorme montanha e sumiram em seu interior.

F I M