terça-feira, 3 de junho de 2008

O Reino a Paz Celestial-Completo

O REINO DA PAZ CELESTIAL

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era grande a azáfama naquele mosteiro dedicado á Divina Mãe. Monges e discípulos se movimentavam, cada qual se dedicando a seus afazeres.
O Sol havia hà pouco despertado de seu letargo.
Aproxima-se um cidadão de aparência chinesa puxando um garotinho pela mão. Entrega-o a um dos monges que veio recebê-los, dá as costas e vai embora. O garotinho chora, pede inutilmente para o pai voltar
Esta não é um cena incomum. Muito dos monges daquele mosteiro tiveram esse tipo de origem. Os pais pobres, em geral, já com muitos filhos entrega-os a um mosteiro.
Li Po foi recebido e passou a fazer parte das atividades do mosteiro com vários outros. Apesar de muito franzino e desnutrido era muito vivaz; aprendia rapidamente as lições e práticas espirituais que lhe indicavam. Aos poucos foi melhorando sua aparência e em pouco tempo já era um garoto forte e robusto. Sua dedicação era impar tanto nos trabalhos comuns como nos estudos e rituais do templo.
Festa no mosteiro, Li Po completara a idade adequada para ir em busca do Reino da Paz Celestial, como ali no mosteiro definiam a conquista da Consciência da Unidade com o Supremo Criador..
Um oráculo indicava se o discípulo tinha potencial para tal.
No auge da celebração, o Guru Sri Swami Siddhananda chamou Li Po e informou-lhe que deveria sair em busca daquele ideal maior.
Abalado ante a expectativa de deixar a vida despreocupada do mosteiro o rapaz nada disse, reverenciou o superior e foi se juntar aos demais. Sua mente, entretanto estava em efevercência, não se julgava capaz para tanto e nem queria enfrentar o desconhecido.
No dia seguinte procurou o Guru e informou-o que não tinha condições psicológicas e espirituais para a tarefa.
Bondosamente o guru pôs a mão sobre sua cabeça e o discípulo viu passar em na visão interior sua vida passada em que tinha sido um devoto especial da Mãe Divina e em seguida projetou seu futuro como um ser, dotado de grande sabedoria e poderes extraordinários após sua busca.
A noite, ainda sob o impacto daquelas visões Li Po decidiu partir.
Pela manhã iniciou sua peregrinação em busca do Reino da Paz Celestial, levando consigo apenas as roupas do corpo, bastão e a tigela de mendicante.
Dormia sob as árvores do caminho se não encontrava alguma alma piedosa que lhe desse abrigo.
A lua cheia já surgira várias vezes, quando certo dia à distância viu um castelo no alto de um morro. Mais animado ante a perspectiva de logo alcançá-lo seguiu por um caminho de pedras ladeado por centenárias árvores. Uma bica encravada num rochedo deixava cair um filete de água cristalina., aproximou-se e com as mãos em concha bebeu um pouco. Lavou-se ligeiramente e as roupas e por fim deitou-se à sombra das árvores para descansar enquanto as vestes enxugavam ao sol.
Já tardinha acordou; o cansaço o vencera e dormira mais que o desejado. Vestiu rapidamente as roupas enxutas e seguiu às pressas para o castelo onde chegou esbaforido às suas portas que se abriram misteriosamente.
LI Po foi recebido por uma jovem morena, esguia, de cabelos e olhos negros que em silêncio pediu-lhe para segui-la. Questionada informou-o chamar-se Jade, mas continuou em silêncio.
Foi levado por extenso corredor a enorme aposento, em outro ao lado um "ofurô" o esperava convidativo. Jade orientou-o para após o banho vestir novas roupas e se preparar para o jantar que logo lhe seria servido..
Encantado, tirou as vestes e jogou-as num cesto, entrando em seguida na piscina quente. Ficou alguns minutos gozando daquele banho. Saiu, enxugou-se e vestiu as novas roupas encontradas num armário.
Leve batida à porta; Jade e algumas serviçais entraram com bandejas, trazendo deliciosas iguarias, colocando-as delicadamente numa mesa baixa.. As serviçais saíram.
Jade tocou uma sineta e logo entrou um grupo de moças que ao som de uma música invisível iniciaram uma dança de extrema beleza.
Compunha-se o jantar de arroz e uma mistura de delicioso sabor que ele jamais havia provado. Acompanhava-o uma jarra de chá, também desconhecido.
A fome era tanta que não lhe permitia questionar, além de que, sua condição de mendicante nada lhe permitia recusar. O ensinamento era taxativo: qualquer alimento recebido não é matéria mas a manifestação do amor dos doadores.
_ Se desejar ler ou orar antes de dormir, há um pequeno oratório ao lado e livros na mesa de cabeceira. Às 4,30 horas tocará um sino, convidando às orações, informou a jovem, retirando-se.
Li Pó escolheu um livro e começou a folheá-lo, absorvendo-se na leitura.
Música de suavíssimos acordes invadiu o ambiente, inebriando o discípulo de felicidade . O sino tocou mais uma vez. Era hora de encerrar as atividades do dia. Li Po pôs o livro sobre a mesinha , dirigiu-se ao oratório para suas preces; uma hora de meditação, leitura de sutras, recitação de mantras e foi dormir, agradecendo mais uma vez à Divina Mãe por lhe proporcionar tamanha felicidade.
O sino tocou pontualmente. Li Po levantou-se. fez sua higiene pessoal; procurou no armário uma veste adequada, enfiou os pés num chinelo novo e preparou-se para sair.
Mais um leve toque na porta; Jade veio buscá-lo .
O templo era majestoso. Ao oriente, um altar composto por três mesas em diferentes níveis de altura, sobre elas oferendas:: flores, frutas, incensos,velas. Acima do altar uma estátua de ouro da Mãe Divina.
Li Po foi colocado numa almofada, onde sentou-se em postura de lótus em meio a uma centena de outros discípulos. Estava mudo, encantado com tanta beleza.
Nas paredes laterais, afrescos contando episódios da vida do Bhagavan Sri Krishna; no teto os diversos mistérios da vida e da morte. Li Po estava boquiaberto, extasiado.
Três leves batidas de um gongo; abrem-se as cortinas da entrada do templo deixando passar um cortejo de anciões que em passos solenes dirigiram-se ao altar. Música celestial acompanha seus passos. Os discípulos, antes acomodados, levantaram-se e curvaram-se à sua passagem
Diante do altar cada componente do cortejo fez as reverências rituais e dirigiu-se para um lado; todos posicionados fizeram novas reverências e sentaram-se.
Um oficiante dirigiu-se à frente do altar fez novas reverências e iniciou o cerimonial e por fim a recitação de mantras acompanhado por todos em voz alta.
Terminada a cerimônia dirigiram-se ao refeitório. O desjejum era um mingau de cereais, pão e chá. Durante a refeição um discípulo lia em voz alta um sutra no qual se afirmava: a vacuidade da matéria.
Ao término um instrutor orientou Li Po sobre as regras e os trabalhos do templo, convidando-o a acompanhá-lo, o que fez alegremente, pois estava muito feliz por ter encontrado afinal o Reino da Paz Celestial que tanto buscava. Agora já não havia mais necessidade de busca, tinha realizado seu ideal.
Entregou-se toda aquela manhã aos trabalhos que lhes foram indicados, em companhia de outros discípulos. Apenas o ruído dos instrumentos cavoucando a terra ouvia-se naquela área de trabalho.
Almoçou, descansou um pouco e voltou ao trabalho. No fim do dia, banho, jantar, oração até às vinte e duas e horas e por fim um sono reparador. Estava um tanto cansado é certo, mas feliz. Acabaram-se seus cuidados.
Assim se passaram trinta dias. entre trabalho, estudos e meditação em companhia dos monges que lhes proporcionaram profundo aprendizado, entremeado com audições musicais e espetáculos teatrais e de danças, tudo com profundo significado filosófico ou religioso
Li Po após suas orações deitou-se, dormiu e sonhou com deuses e anjos, gozando as delícias do paraíso que havia encontrado. Acordou à hora do costume e ficou aguardando deitado a chamada do sino.
O sol já ia bem alto quando resolveu se levantar; assustado; olhou para um lado, para outro, nada viu além da campina verdejante . O castelo havia sumido como por encanto.
Por entre a relva da campina, apenas uma estreita trilha indicava o caminho a seguir.

CAPÍTULO SEGUNDO

Sentou-se em postura de lótus, olhou a campina estendida a perder de vista. Orou pedindo ânimo para continuar .
Minutos após sentindo-se revigorado reiniciou a marcha. A noite já se avizinhava, um povoado surgiu à distância: casas, estabelecimentos , ruas limpas, iluminação. Seguiu desejando encontrar onde passar a noite.
No fim da rua uma praça, uma fonte e um templo. Aproximou-se da fonte desejando lavar-se.
O vigilante ao vê-lo se aproximando com visível intenção de se lavar tratou de impedi-lo; ao chegar mais perto viu que não se tratava de um mendigo, mas de monge mendicante, ser respeitado e venerado na região. Encaminhou-o ao templo entregando-o a um monge .
-Namastê, meu irmão..
_Namastê, venerável. Pode me dar abrigo por esta noite?
_ ­Certamente meu irmão, venha, vou apresentá-lo ao nosso Rimpoche, o monge Saddhananda
Feita a apresentação retirou-se, deixando-os a sós.
Li Po passou a relatar sua missão e os eventos do caminho
Monge mendicante na cidade era motivo de festas. Li Po foi convidado a permanecer na cidade. O Rimpoche já idoso buscava substituto. Li Po declinou do convite; não estava preparado, não encontrara ainda o Reino, mas concordara em passar alguns dias ajudando e incentivando os jovens.
O Rimpoche tocou uma sineta; uma jovem veio atendê-lo..
_ Mauri, este jovem monge vai passar alguns dias conosco, acomode-o adequadamente.
A jovem acomodou-o num aposento bastante amplo e confortável.
_ No fim do corredor tem uma sala de banhos, informou a jovem. No armário tem novos trajes. Quando estiver pronto toque a sineta que está sobre a mesa. Dito isso saiu, deixando Li Po pensando se não seria uma outra visão como aquela do castelo.
_Bem, agora vamos jantar, convidou-o ao atender a sineta..
Limpo e com roupa nova Li Po agradecido acompanhou-a ao refeitório.
Um sino anunciou a hora dos trabalhos noturnos do templo..
Residentes já se encontravam acomodados. Li Pó ocupou um lugar e passou a meditar. Horas de meditação, leitura de sutras e recitação de mantras.
No quarto Li Po acomodou-se confortavelmente, com cama e mantas limpas, coisas raras para ele Fez suas orações usuais e dormiu.
Na noite do terceiro Li Pó, em seu quarto, concentrado em sua oração sentiu mãos suaves, perfumadas afagando-lhe o rosto e um corpo macio, quente, contra suas costas Assustado, levantou-se e se deparou com Mauri, despida dizendo-se apaixonada, implorava por seu amor; expulsou-a do quarto.
Não pôde continuar sua meditação, tampouco conseguiu dormir. O corpo reagia de forma estranha aos pensamentos que vagavam num turbilhão incessante.
O sino tocou chamando para os trabalhos matutinos.
Anoiteceu, o visitante entregou-se a prática da Hata Yoga, queria apagar o fogo ateado por Mauri, a jovem discípula com uma pele azeitonada, olhos e cabelos negros, o corpo com contornos bem acentuados, era uma mulher muito bonita.
Uma hora de exercício, deitou-se para dormir. Pela madrugada Mauri, inconformada com a recusa de Li Po fez mais uma tentativa.. Chegou de mansinho e deitou-se a seu lado. O desejo explodiu irresistível. Li Po virou-se e se viu fortemente abraçado pela jovem, seu corpo vibrava, todo seu ser ansiava pelo desconhecido.
Uma visão fortuita de seu guru alertou-o do perigo, levantou-se violentamente e mais uma vez pôs a jovem fora o quarto
­_Venerável, devo continuar meu caminho, muito obrigado por sua generosidade, mas devo partir.
_ Lamento, gostaria que permanecesse aqui conosco, mas se tem de ir vá com minhas bênçãos.
Ao colocar a mão sobre a cabeça do discípulo para abençoa-lo o superior viu em sua visão interior a cena na qual Mauri tentara inutilmente desviá-lo do caminho. Compreendeu a decisão do rapaz e deu-lhe sua bênção, louvando-lhe a vitória contra a tentação.
_ Meu filho, siga sempre em direção ao oriente em alguns dias ao pé de uma montanha encontrará uma cabana e nela um venerável monge que lhe dará algumas instruções..
Com seu bastão, sua cuia e um farnel com algum alimento, presente do Rimpoche reencetou sua marcha.
Li Pó caminhava já há dois dias cruzando vastas plantações de trigo, abrigando-se nas
casas dos camponeses.
Invariavelmente lhe vinha à memória o contato suave e perfumado do corpo de Mauri;
pensou em voltar e se entregar por completo ao amor da jovem; seu guru interferia: o amo
humano é passageiro e fonte de sofrimento, só o amor da Divina Mãe é eterno.
A partir do terceiro dia sua caminhada tornou-se mais difícil, a região era montanhosa. selvagem No quarto dia mais obstáculos, a mata fechada e apenas uma trilha. Sinais de animais selvagens lhe deixaram preocupado, o medo ameaçou-o, sentiu-se incapaz de continuar. Anoitecia; divisou mais além a choupana de que falara o Rimpoche apressou os passos, em pouco estava à porta.
_ Entre filho, estava lhe esperando.
_ Namastê, venerável!
_ Namastê, entre, sente-se.
O ermitão, em silêncio ofereceu-lhe chá e pão, enquanto o examinava. Satisfeito com o exame passou a lhe orientar. Continue seguindo em direção ao oriente, antes do anoitecer encontrará uma caverna, lá deverá permanecer em meditação até atingir o que busca. Passou a ensinar-lhe práticas de pranayama com as quais poderia dispensar alimentos, servindo-se apenas de prana (energia vital).
Cedo Li Po reiniciou sua caminhada, cada vez mais difícil. A montanha era muito alta e cheia de acidentes, mas conseguiu chegar antes de anoitecer apesar das serpentes e outros animais encontrados pelo caminho.
A caverna era ampla contava com algum conforto: cama de palhas, no chão um fogão também de pedras, lenha, mantas e cobertores, armário com mantimentos e outros itens indispensáveis à permanência prolongada.
Além das práticas de pranayama o ermitão deu-lhe uma série de exercícios de Hata Yoga e temas para meditação que deveram ser executados quatro vezes ao dia.
Passaram-se cinco anos, Li Po já não era mais mesmo. Tinha se tornado mais robusto e desenvolvera uma série de qualidades paranormais.
Certo dia durante a alvorada enquanto contemplava o sol que vinha raiando por trás dos montes, sentiu no corpo uma energia (kundalini) partindo da base de sua espinha dorsal, despertando o chacra (centro oculto de vida e consciência) ali colocado e elevando-se até o alto da cabeça, despertando os demais chacras ao longo da coluna.
Ao atingir o alto da cabeça Li Po sentiu. naquele instante a consciência de sua unidade com Deus, um estado de eterna bem-aventurança, o Reino da Paz Celestial.
Regressando à caverna, em estado de êxtase, encontrou seu guru que tantas vezes, invisível, lhe acompanhara os passos, orientando-o e protegendo-o nas dificuldades. Reverenciaram-se. O guru batizou-o com o nome de Sri Swami Satyananda..

CAPÍTULO TERCEIRO

Da mesma forma que surgiu no eremitério o guru desapareceu.
O novo Swami desceu a montanha e foi ter com o monge da choupana, agradecer-lhe a ajuda prestada durante aqueles anos.
Visitou também ao Rimpoche em agradecimento a hospedagem, soube por ele que Mauri tinha sito afastada do templo por não se ajustar às suas regras disciplinares e que agora se encontrava casada e com filhos. Atualmente ajudava o templo regularmente em trabalhos sociais e ajuda financeira. Encontrara na vida familiar seu caminho para salvação.
Trasladou-se para seu mosteiro de origem onde foi recebido festivamente.
No dia seguinte Sri Siddhananda convidou-o a uma reunião e deu-lhe uma nova missão: percorrer os paises do Ocidente divulgando os milenares ensinamentos daqueles grandes mestres do passado que alcançaram como eles próprios a mais alta realização espiritual possível ao ser humano.
O agora Sri. Swami Satyananada, permaneceu em silêncio, avaliando os prós e contras de sua nova missão. Via passar em sua visão interior, guerras, conflitos, fome., miséria em toda parte, o que fazer? Como divulgar ensinamentos tão preciosos no meio de tanta confusão, corrupção, degeneração dos costumes, perversão sexual e praticamente total alheamento dos princípios morais e espirituais por parte de grande parte dos povos daquela região?
Viu também, em contrapartida a existência de grupos bem intecionados lutando em desvantagem contra aquela situação.
Animou-se, trataria de ajudar aqueles grupos em suas lutas. Aqueles grupos seriam, certamente aliados valiosos.
Durante muitos anos Satyananda visitou vários países do ocidente, ajudando os grupos de ajuda humanitária ali formados, criando núcleos de estudos superiores de espiritualidade e escolas de todos os níveis..
Seus poderes extraordinários foram utilizados na doutrinação de inúmeros governantes e políticos, transformando-os em cidadãos de bem.
Reuniu-se, certo dia, num aposento em que costumava meditar com um grupo de discípulos mais íntimos e informou-lhes de que havia chegado a hora de deixar seu corpo físico e voltar ao oceano da Consciência Divina.
Dirigiram-se a seu pequeno templo particular. Swami postou-se em lótus diante do altar de seus paramgurus (gurus de um guru); os discípulos postados em semi-círculo passaram, mentalmente, à recitação de um sutra específico para a ocasião.
Sri Swami Satyananda procedeu a certa prática secreta de pranayama e deixou seu corpo físico com o qual por mais de cinqüenta anos, por onde atuou, deixou um rastro de

AMOR E LUZ
EDUARDO