domingo, 27 de abril de 2008

DESORIENTADO

DESORIENTADO

O ônibus segue em velocidade moderada. Num ponto adiante atende ao sinal de um novo passageiro.

Olho-o com curiosidade. É um senhor elegante aparentando uns sessenta anos, alto, magro, vestido como se fosse a uma festa: terno preto, camisa branca, gravata de uma cor indefinida, sapatos combinando com o terno; certamente um elemento de posses.

Estranho que tal elemento se sirva de um coletivo e resolvo observá-lo melhor.

_ Este ônibus vai até o cemitério? pergunta, aproximando-se do cobrador.

_ Sim senhor, é a primeira vez que vai lá?

_ Sim!

_ Lhe avisarei quando chegar.

_ Muito obrigado.

Minha curiosidade aumentou. Com certeza ia ao velório de alguém. Como estava à cata de um novo conto e nada de urgente a fazer resolvi segui-lo

Chegados ao cemitério, o cidadão dirigiu-se à administração. Adquirida a informação desejada: a localização do jazigo da esposa, para lá se dirigiu e eu, discretamente ao seu encalço

Procura aqui, procura acolá e por fim encontra o local desejado . Faz o sinal da cruz, e permanece em pé, fazendo talvez alguma oração, em seguida volta-se para mim, faz um aceno e mergulha no jazigo, desaparecendo de minhas vistas.

Um arrepio me envolve todo corpo e saio correndo, desorientado, para fora dali.