SEVERINO
Eduardo Paes Ferreira Neto
O camburão da policia militar chegou à Praça do Comercio em Garanhuns.
A população ficou em polvorosa, o que viria fazer ali uma viatura destinada a presidiários? A curiosidade era geral. Os mais afoitos se aproximaram do veículo e inquiriram o motorista sobre sua finalidade.
Viemos buscar dois pacientes para o hospício em Recife. Por favor, onde mora o Sr. Severino da Silva?
_ Eu lhes levo lá, ofereceu-se um dos curiosos.
_ Tudo bem, suba aí.
_ Chegue-se um pouco para cá para o rapaz entrar, Antônio, pediu o
Cabo Manoel, o motorista.
O veículo sob a orientação de um dos curiosos tomou a direção da
casa de Severino.
A notícia espalhou-se e em minutos a rua estava cheia de pessoas de todas idades e condições sociais!.
O veículo chegou à casa do caboclo. A noticia chegara antes e ele já estava à porta esperando.
_ Senhor Severino da Silva? Perguntou o soldado.
_ Sim senhor, sim senhor!
O cabo tirou um papel da pasta e entregou-o a Severino, era a ordem para levar os pacientes para o Hospital da Tamarineira em Recife.
Severino pegou o papel, olhou, olhou e pediu para outra pessoa ler.
O número de pessoas aumentou à frente a casa. Conversavam
respeitosamente em voz baixa.
O dono da casa, afastando-se da porta pediu aos policiais para entrarem e descansar um pouco, enquanto ele iria preparar os pacientes para a viagem.
O tempo ia passando, ia passando e os curiosos não se afastavam.
Severino era um trabalhador rural, viúvo há já cinco anos, novo ainda, forte, musculoso, um tipo respeitado por todos os conhecidos que eram muitos. A finada esposa lhe deixara dois filhos que nasceram com deficiência mental e assim cresceram, estavam agora um com quatorze e outro com dezesseis anos. Enquanto Zefinha, a finada estava viva cuidava das crianças da melhor maneira possível, mas Severino sozinho, precisando cuidar da lavoura do patrão não podia lhes dar muita atenção e assim o tempo foi passando e a demência dos rapazes piorando. Chegou a um ponto que não dava mais para tê-los em casa. Os dois viviam brigando.
O posto de saúde da cidade cuidou das providências para a internação.
Três horas da tarde, o soldado Antônio sai da casa e vai abrir a porta do camburão. Severino e o cabo trazem s dois rapazes. Eles estão inquietos, nervosos, relutando a saírem, mas a um olhar mais severo dos adultos se deixam levar e entram na viatura. O soldado vai com eles para evitar problemas. O cabo tranca a porta do veículo e despede-se de Severino,
O camburão dá partida, Severino passa um pedaço de pano nos olhos para enxugar as lágrimas que não paravam de cair, consciente de que dificilmente voltaria a ver aqueles filhos que tanto amava. Ainda não havia cura para aquele tipo de demência.
Os vizinhos aproximavam-se e se solidarizavam com sua dor.
Passado algum tempo, cansado da solidão, logo se engraçou de Jacinta uma cabocla morena, bonita, cabelos lhe chegando à cintura, olhos também negros vivazes; mulher forte, trabalhadeira, com certeza boa parideira logo lhe daria uma ruma de filhos para ajudar na lavoura de subsistência da casa.
Com o ânimo um tanto quebrantado após a morte da Zefinha e o cuidado com os filhos agora era outro homem, estava mais disposto, revivera. Jacinta cuidava bem daquele homem e ele retribuía fartamente seus cuidados.
O casal era terrivelmente fértil, cinco anos após se juntarem já tinham seis filhos; em duas barrigadas nasceram gêmeos. E a vida seguia em frente indiferente a incapacidade financeira de Severino.
Uma família típica do sertão pernambucano.
FIM
quarta-feira, 25 de junho de 2008
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