quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Ginete

O GINETE
Fidalgo era um belo puro sangue árabe, negro, alto, um nobre animal que o Capitão Gabriel recebera como presente do pai quando completara dezoito anos e ainda era um jovem estudante na escola militar.
Gabriel, apesar de ter ordenanças preferia ele mesmo lavar, escovar e alimentá-lo. Os dois se entendiam perfeitamente, parecia haver um entendimento telepático entre ambos. Com o tempo esse relacionamento foi se tornando cada vez mais perfeito, e o conjunto cavaleiro/animal tornou­-se quase que um só ser. Era patente em algumas situações o animal se antecipar ao comando das rédeas e agir de acordo com a ordem ainda mal formulada na mente do capitão, deixando-o não raras vezes até espantado. O animal era verdadeiramente um colosso.
Fidalgo era o orgulho do jovem capitão, e ele Fidalgo dava mostras também de se "sentir" orgulhoso do seu cavaleiro.
Nos desfiles, mantinha a cabeça erguida e seus passos eram precisos e elegantes.
Lamentavelmente veio um dia a guerra, cruel e implacável. Um país vizinho, na ânsia de ampliar suas fronteiras invadiu o território do jovem capitão.
Todos são convocados para a defesa da pátria. O capitão embora tivesse na tropa um outro animal, foi obrigado a levar seu valoroso Fidalgo, que de disputa s6 conhecia as raias dos concursos hípicos em que era inconteste campeão. Era um animal nobre, infelizmente tinha também que atender às necessidades de defesa do país, assim, cavalo e cavaleiro foram para os campos de batalha.
A guerra era violenta e cruel, como o são todas. O inimigo mais numeroso e mais bem adestrado
avançava impiedosamente sobre o país. Os invasores das terras de nossos heróis; orgulhosos e violentos, saqueavam tudo; matavam os homens, violentavam as mulheres e se apossavam do que podiam, desrespeitando as normas bélicas internacionais de respeito à dignidade humana.
Numa das batalhas o jovem capitão foi ferido; um oficial de alta patente do exército inimigo reconheceu em Fidalgo um campeão de sua raça e de imediato apossou-se dele. Segurou-o pelas rédeas e tentou inutilmente montá-lo. Por fim chamou dois subordinados e lhes ordenou que segurassem o animal para poder cavalgá-lo; os ordenanças seguraram-no e o oficial montou-o, ordenando em seguida que lhe soltassem as rédeas; o animal tomou-as nos dentes e num desabalado galope saiu pela pradaria afora indiferente aos açoites e esporas do oficial.
A correria durou algum tempo, o oficial gritava, esbravejava, açoitava, e esporeava-o impiedosamente; tentava frear aquele galope desembestado.
O animal espumava pela boca e o sangue lhe escorria dos cortes causados pelas esporas.
Por fim o animal jogou-se de um desfiladeiro no fim da pradaria, carregando consigo, para a morte, o oficial inimigo.

FIM

Um comentário:

Claudia disse...

Oi, Eduardo.
Até me arrepiei com o final do seu texto. Muito bom.
Um abraço,
Claudia