sexta-feira, 22 de agosto de 2008

LONGEVIDADE INTOLERÁVEL

LONGEVIDADE INTOLERÁVEL

Dona Virgulina era uma senhora bastante idosa, riquíssima, mas totalmente intolerável, verdadeira megera.
O filho mais velho, desempregado, casado e com dois filhos vivia praticamente de favor em sua casa, aturando diariamente as impertinências da velha .Era ele, em realidade uma exceção na família. Tipo bom e trabalhador, estava azarado, por mais que procurasse não encontrava emprego e assim vivia suportando calado a humilhação a que a mãe submetia sua família.
_Você é um imprestável, não se mexe para nada, sua mulher é uma toupeira, porque não vão embora de uma vez desta casa? Ainda por cima esses meninos desobedientes e barulhentos. Me deixem em paz de uma vez! Era a cantilena diária da velha..
Os demais parentes, filhos, netos, sobrinhos etc. só a visitavam uma vez por ano em seu aniversário, mas era sempre a mesma cantilena:
_ Que é que vocês vieram fazer aqui? Reclamava a velhota.
_Vocês não gostam de mim, só querem mesmo me ver morta para passar a mão no meu dinheiro. São um bando de urubus agourentos. Vão embora!
A velhota tinha razão. Seus parentes eram um bando de vadios que estavam apenas aguardando a hora da “liberdade”, o que se daria, pensavam eles, com a morte da velha. que era entretanto muito forte e tinha uma saúde de ferro. Já com noventa anos não parava. Era da cozinha para a sala; da sala para o quintal; subia e descia escadas como qualquer moleque, para profundo desgosto dos parentes..
Lá um dia, um dos parentes que dia a dia mais de endividava, contando com a morte da velha de uma hora para outra, incomodado com sua longevidade reuniu os demais e combinaram antecipar a passagem da velhota desta, para a melhor.
Como estava próximo a seu nonagésimo sexto aniversário planejaram comemorá-lo adequadamente.
Um enorme bolo de aniversário com duas velas indicando a idade da aniversariante jazia majestosamente à mesa devidamente decorada para a ocasião.
_ Vocês são uns perdulários, para que essa ostentação se não gostam de mim?
_Não, não é verdade, todos lhe amamos, falou um dos parentes.
_ É verdade, é verdade, todos lhe amamos, afirmaram os demais em coro.
Lá para às tantas alguém lembrou que era hora de partir o bolo.
Reuniram-se em torno da mesa. A velha próxima ao bolo e os demais mais ou menos afastados. Foram acesas as velinhas.
_Parabéns pra você, nessa data querida....
Uma terrível explosão abalou todo o prédio.
Os bombeiros foram chamados; apagadas as chamas iniciou-se a procura de sobreviventes.
_ Ai, ai, vocês são uns miseráveis, vocês não gostam de mim, só querem é meu dinheiro, urubus agourentos .... ouvia-se por baixo dos escombros.
Só a Virgulina escapou da explosão..

3 comentários:

Claudia disse...

Olá, Eduardo. Adorei a Virgulina. Mau-humorada, mas ao mesmo tempo muito simpática. Por coincidência, ou não, também escrevi um conto sobre os urubus familiares que rondam os mais endinheirados.
Um abraço,
Claudia

Anônimo disse...

Oi, Eduardo. Deixando um abraço e minha admiração por Virgulina. Seria ela parente de Lampião?
Abraços!!!

Nanete Neves disse...

Oi Edu, interessante você abordar esse assunto. O cinema e a literatura sempre trazem essa universal questão de família. Existem filmes incríveis com essa temática que podem te ajudar a fazer "crescer" a sua Virgulina. Continue sempre exercitando!