domingo, 11 de maio de 2008

CRIANÇAS, EU VI!

CRIANÇAS, EU VI!

Era uma manhã de domingo, o dia se pronunciava excelente. Estava no pomar a cata de alguma fruta. Pequena ave voejava inquieta e chilreando aflita em torno do ninho. Parei para ver o porquê de tal aflição. Por entre a relva uma serpente dardejava seu olhar hipnótico sobre a pequena ave.
Compadecido pela criaturinha, apanhei uma vareta e espantei o ofídio que me brindou com um olhar de revolta; esgueirou-se pela relva e sumiu.
A avizinha voltou ao ninho, certamente feliz por se livrar da faminta serpente.
Comentei alegre aos companheiros do monastério a boa ação cometida.
Ao cair da tarde, como de costume. nos reunimos para a meditação.
O mestre, após as orações iniciais e notícias dos eventos do dia, passou a me admoestar pelo feito do qual me orgulhara, ter salvo a pequena ave da crueldade da serpente.
Falou o mestre: A natureza é de uma beleza extraordinária, mas ao a olharmos mais fundamente veremos que por trás de toda essa beleza há um mundo verdadeiramente cruel; há em todos os níveis uma presa e um predador: a ave come o inseto e este come um menor; a serpente come a ave, a águia come a serpente. Um antílope é comido por uma onça e essa pode ser devorada por uma outra serpente. Graças e esse ciclo é que a natureza se mantém em equilíbrio.
Ao salvar a ave, Joseph, você interrompeu esse ciclo e essa ação que a seu ver foi um ato louvável é antes, motivo de recriminação. Há certamente um atenuante, seu coração de bondade, mas a serpente pode ter morrido de fome; seu amor é discriminativo.
Na natureza nenhum ser mata ou provoca sofrimento em outro por simples prazer, isso é “privilégio” do ser humano.
Saí da reunião cabisbaixo, pensativo e rememorando as ações que nós humanos cometemos com toda sorte de seres, apenas pelo prazer.
Não precisamos matar para comer, a natureza nos dá tudo de bom para nos alimentar e ter uma vida saudável: frutos maravilhosos, verduras, legumes, etc. Nosso prazer podemos encontrar na música, na leitura, nas artes em geral, na companhia de familiares e amigos; não precisamos fazer sofrer aos animais para nossa diversão. A paz, a felicidade e o amor que desejamos para nós deveremos levar aos demais seres da natureza; como nós, eles também têm direito à vida e a felicidade.

3 comentários:

Gabriel Perissé disse...

Eduardo, meu amigo!
Trabalhando neste domingo!? Só mesmo escritor...

Gabriel Perissé
www.perisse.com.br

Pati Cytrynowicz disse...

Oi, Eduardo, é tão raro em pessoas comuns (acho que ainda somos comuns, apesar de já sermos escritores) saírem da mesmice do mundo. Obrigada pela leitura. Boa semana e até amanhã.

Olga disse...

Não posso condenar a atitude daquele que se sentiu triste pelo destino trágico do pássaro! Choro até em documentários quando há cenas de predadores famintos perseguindo presas indefesas. Concordo, no entanto, que isso esconde certo preconceito e amor seletivo. Quem sabe um dia amarei cobras (e baratas) como amo os pássaros e as borboletas. Gostei da sobriedade e da mensagem belíssima de seu texto, Eduardo!